O agente do FBI Chester Desmond investiga as circunstâncias misteriosas no assassinato de uma garota chamada Teresa Banks, mas desaparece sem deixar rastros enquanto segue uma pista. Enquanto isso, na pequena cidade de Twin Peaks, a jovem Laura Palmer vive os últimos sete dias antes a hora de seu assassinato, retratado no seriado "Twin Peaks".
Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (A tradução literal de “Fire Walk With Me” para “O Fogo Caminha Comigo” teria sido infinitamente melhor) é um prelúdio da famosa série de David Lynch e Mark Frost. O filme, lançado depois do fim da segunda temporada da série, mostra (como o título já diz) o fim da vida de Laura Palmer. Mas ao mesmo tempo desenvolve mais o caso de Teresa Banks, a outra menina assassinada por Bob.
Antes de qualquer análise mais profunda do filme uma coisa é importante ser dita, o filme claramente teve um orçamento baixo, provavelmente mal aproveitado, e isso de fato mexe com o imaginário quase santo que tenho de Twin Peaks. Enfim toda a história da produção desse universo é complexa e sinceramente eu não sou a pessoa indicada para escrever sobre. Dito isso vou focar minha análise no filme de 1992, e não levarei em consideração as cenas a mais que foram disponibilizadas posteriormente.
Finalmente então falando sobre o filme. Ele é bagunçado, e não no jeito David Lynch que amamos, mas sim de forma truncada e que não nos permite engajar muito com nenhum personagem, principalmente os novos ou os que passamos pouco tempo na série. Isso é o caso de Chat Desmond, que tem papel crucial na investigação de Teresa Banks, mas suas aparições são em grande maioria tão introdutórias que mal conseguimos nos afeiçoar pelo personagem. Quando finalmente temos uma maior sustância acerca dele, ele desaparece. Claro que esse desaparecimento vêm em detrimento do avanço da narrativa do universo em que o filme se insere. A saída do personagem no meio da narrativa não é o problema, mas sim as cenas que a antecede, em que o personagem é pouco explorado.
Sobre o objeto principal do filme, Laura Palmer, o filme também não é muito feliz. Grande parte das informações dadas sobre a personagem não são de fato novidades. Muitas dessas informações de alguma forma ou de outra já haviam sido apresentadas na série: sua vida dupla (ou tripla), seu vício em drogas, a prostituição, seus prováveis problemas psicológicos e sua personalidade auto destrutiva. Isso tudo já havia ficado claro nas duas temporadas da série.
Saindo dos aspectos mais narrativos e indo para os técnicos eu tenho dificuldade de resumir a minha opinião em uma frase só. Como havia dito anteriormente o orçamento baixo (ou a má utilização dele) cria alguns problemas que me incomodam bastante. Os cenários não combinam com a estética da série, a iluminação é bem pouco sutil. Mas por outro lado as experimentações, principalmente na montagem, que David Lynch faz no filme são animadoras. Nem sempre elas ficam muito bonitas, ou têm alguma serventia maior do que uma criação de clima. Mas elas me deixam muito feliz por perceber que anos depois em Twin Peaks: O Retorno, esses mesmos experimentos seriam utilizados para então contar uma história. E que sem esses efeitos provavelmente O Retorno não teria uma qualidade tão grande quanto se foi vista.
Para mim é impossível analisar esse filme sem me referir às duas grandes obras que o cercam, Twin Peaks no passado e Twin Peaks: O Retorno 25 anos no futuro. E talvez seja exatamente por esse motivo que eu ao mesmo tempo desgosto e gosto muito do filme.
Ele tem seus problemas, mas é ao mesmo tempo uma parte muito importante da história desse universo que eu amo tanto. Twin Peaks é importante na minha vida como sei que é na vida de muita gente (inclusive venci meu preconceito com tatuagem de séries, e ainda só não fiz a minha tatuagem baseada em Twin Peaks por falta de dinheiro). Então para qualquer um que goste do universo criado por Mark Frost e David Lych, eu recomendo fortemente assistirem Os Últimos Dias de Laura Palmer.
Escrito por João Cardoso
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