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Crítica: Stalker - Andrei Tarkovski (1979)

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    Equipe
  • 21 de nov. de 2018
  • 3 min de leitura

"Após a suposta queda de meteoritos numa região do planeta, essa região adquire propriedades estranhas e é chamada de Zona. Dentro da Zona, diz a lenda ter o Quarto, que seria um lugar onde todos os seus desejos são realizados. Temendo que a população invada a Zona à procura do Quarto, o exército a isola, mas eles próprios não têm coragem de entrar nela. Apenas alguns poucos, chamados Stalkers, têm habilidade suficiente para entrar e sobreviver lá dentro. Um dia, um escritor famoso e um professor contratam um Stalker para os guiarem ao Quarto, sem exatamente saber o que procuram." (Fonte)


Apesar de eu não gostar desse filme como um todo, é inegável a todos que acompanham cinema a importância dele pra história da direção e produção cinematográfica. Andrei Tarkovski, diretor e um dos roteiristas por trás da obra, fez aqui talvez a obra cinematográfica pioneira, e que possa ter incentivado tudo que seja experimental anos após sua estreia.

Não é um filme fácil. Além de sua duração (2h43), é um filme pouco convidativo pro espectador ficar. Não é alimentado nenhum anseio ao telespectador pra ficar até o fim, a não ser seus momentos crus, e, como está na primeira linha desse texto, seus momentos sensoriais intimistas (que não são poucos).


O roteiro é nebuloso, pura consequência de não ser nenhum pouco convidativo a quem espera uma ficção científica fácil(o que comparado a outra obra do mesmo diretor, Solaris, ainda acaba se destoando da sua execução). Deixarei a sinopse agora, depois começarei a explicar o porquê não gostei totalmente, e o que certamente funciona;


O filme talvez seja um dos mais complexos dentro das suas metáforas e propostas que Tarkovski tentou abordar. Mas ao contrário de Mallick, sua pretensão não cegou a obra totalmente a ponto de torná-la ruim. Mas não me surpreenderia que alguém, mesmo acostumado a ser cinéfilo há anos, dizer que há momentos cansativos nesse filme.

Seu primeiro ato, apesar de não ser convidativo como disse lá atrás, nos dá um ar atmosférico que o filme perdura até o fim. Um ar de mistério que paira o tempo todo, mas não sabemos dizer o que possa ser. E ver isso carregado nos poucos diálogos apresentados entre personagens e seus olhares, além da fotografia que transita de sépia para colorida no fim do primeiro ato, nos envolve nesse ar atmosférico. E isso é o mais importante do filme, deixar o telespectador nesse clima. Proposta bem vinda e bem executada.

O problema pra mim é que temos excessos de cenas extensas que não tem propósito algum, nem pra narrativa (que já nos deixou claro acompanharmos essa jornada densa dos personagens pra Zona) e nem pro enredo. Ela simplesmente se estende sem necessidade, e é nos brindado com inúmeras partes de poemas do pai de Tarkovski. São poemas belíssimos, mas não casam com a maior parte delas em seu início. A pretensão, aí, infelizmente se sabota e fica uma 'punhetagem' de poesia em cima de cenas sensoriais, que são boas. Mas não ''casam''.


Praticamente não há trilha sonora, o que deixa todas as sensações que podemos ter com o filme mais naturalístico. Ou seja, o som ambiente toma o lugar do que esperaríamos de algum tipo de trilha. Os passos, o vento, o bater de asas de algum pássaro por perto, as gotas d'água, tudo isso contornam e intensificam qualquer nuance que os personagens carregam até ali, e o que vemos perto do fim do terceiro ato com nossos 3 protagonistas, é uma cena talvez catártica (?) apesar subjetiva, carregada de inúmeros simbolismos que Tarkovski quis passar em sua proposta (mas isso não nega qualquer outra interpretação que o público possa ter). Ou seja, não vá esperando também um desfecho comum e redondo. Se espera isso, Tarkovski não é pra você.


Mas se não tivemos o bastante de nebulosidade total com seu roteiro, os segundos finais (que eu amo de verdade) é uma anticatarse ou quebra de expectativa incrível, se achou que poderia ter entendido/ou interpretado 100% da obra é nesses segundos finais que você percebe que a dúvida também pode ser poética. Uma obra, que apesar de eu não indicar facilmente ou dizer que gosto sem hesitar, é completa e complexa demais pra qualquer um. Talvez seja o trabalho mais íntimo do diretor. E mesmo possuindo uma intenção inicial da ideia do filme pro Tarkovski, ela se fragmenta lindamente nas interpretações de seus fãs sobre a obra.

É o que Oscar Wilde também dizia: ''Nenhum grande artista vê as coisas como realmente são. Caso contrário, deixaria de ser um artista.''


Stalker é um filme dirigido por Andrei Tarkovski em 1979


Escrito por Gabriel Lopez

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