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Crítica: Shirkers, O Filme Roubado - Sandi Tan (2018)

Em 1992, Sandi Tan e suas amigas fizeram um filme inusitado nas ruas de Singapura. Mas o filme desapareceu, e ela saiu em busca de respostas. (Fonte)

Em 1992, a adolescente Sadi Tan filmou o primeiro road movie independente de Singapura, junto de suas amigas e de um enigmático mentor a americano, Georges. Após as filmagens Georges e todo o material gravado desapareceram. Vinte anos depois os rolossão encontrados, levando Sadi em uma busca pelos rastros de Georges. Quando eu ouvi falar do filme não tinha dado muita atenção, achei que seria algo bobo, sobre artistas desinteressantes e cheios de ego. Mas como eu estava errado.


O filme entra a fundo em todos os personagens, traçando os caminhos de cada um até a chegada na criação do filme. Fazendo isso consegue apresentar de forma impecável um espírito de época extremamente complexo de um país que em menos de trinta anos passou de ser uma pequena ilha de fugitivos do regime chinês, para uma das potências mundiais, regadas a toda gentrificação e conservadorismo que uma rápida ascensão econômica de um estado pode causar.

Sadi traz como foi crescer nesse caldeirão e como foi ver uma rápida mudança dentro de seu país. Tendo visto e vivido tudo isso somente um caminho poderia surgir para ela e suas amigas, algo que muitos jovens oriundos de países em desenvolvimento durante a década de 90 passaram, uma rebeldia com o modelo vigente e uma grande vontade de fazer parte dessa globalização que cada vez mais chegava às suas portas.


A forma que Sadi e suas amigas escolheram de se rebelar foi através do cinema, dessa forma elas conhecem Georges, o personagem central da trama, um homem que diz ter trabalhado em diversos filmes americanos de sucesso e que dá cursos de produção cinematográfica independente. Georges tem família, mas mesmo assim passa as noites passeando de carro e filmando as ruas de Singapura, junto de seus alunos. Toda essa efervescência e algumas viagens de carro fazem com que o filme que Sadi queria fazer é um road movie. O filme contaria a história de S, uma jovem assassina que foge de casa e sai viajando pela pequena ilha de Singapura.

Durante toda essa primeira parte do filme em que a contextualização e, uma certa auto análise, é feita, o filme brilha de uma forma exuberante. Misturando diversos suportes de filmagem, video, 8mm, 16mm, 35mm, e digital, de uma forma fluida e gostosa de se ver. Consegue ser tão envolvente que mal se percebe as mudanças de formato de tela. Mas elas estão lá e contribuem para esse caldeirão noventista presente em todo o filme.


Já a segunda parte do filme é bem focada em uma tentativa de entender Georges. Sadi vai a procura de seu passado e do que aconteceu com ele após o fim das filmagens do filme. O que descobre pode ser um pouco decepcionante. Muito provavelmente porque todo o discurso que Sadi dá sobre Georges anteriormente já vem extremamente carregado de julgamentos. Isso torna o personagem interessante, porém massante. No fim quando o filme finalmente volta a aquela auto análise, agora com uma autocrítica, e fala das amigas que ajudaram a diretora no filme, ele volta a ser a maravilha que havia sido. São mulheres que viveram em uma geração singular e aprenderam a se fortalecer com isso.

Acho que no fim é uma obra muito boa e como eu disse surpreendente e acima de tudo sincera. Todos os personagens, mas principalmente a diretora Sadi, tem muitas lacunas que são abertas e é deixado para o espectador a tarefa de julgá-los. É um exercício divertido, assim como o filme. Altamente recomendado.

E SIM DEVIA TER SIDO INDICADO AO OSCAR!!!!!!!


Escrito por João Cardoso

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