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Crítica: Saint Maud - Rose Glass (2019)

Se você gosta de um horror onde a obsessão religiosa é a espinha dorsal do medo e da agonia, esse é o seu filme. Mas, se você busca um significado maior do que, digamos, um art house sobre solidão com um fundo alucinatório cristão, bem, é melhor scrollar sua lista e escolher outro título.

Saint Maud é o novo filme da A24, dirigido e roteirizado por Rose Glass, que alcança a maior parte de seu público brasileiro em 2021. Ele traz a extasiante atuação – ponto alto do longa – de Morfydd Clark como Maud, uma enfermeira que após estar envolvida em um acidente no hospital onde trabalha, precisa mudar de emprego. Ela então se integra a uma agência de cuidados de saúde privado e logo é contratada para cuidar da ex-dançarina e coreógrafa Amanda Kohl – interpretada por Jennifer Ehle.


Maud é uma protagonista entregue ao isolamento humano, seu único amigo é ninguém mais ninguém menos do que o próprio Deus, seu Senhor e Salvador. Ela crê que Ele guarde um plano para sua pupila e através de Amanda, uma alma próxima de seus momentos finais no solo terreno, Maud descobre sua vocação.

Pode-se supor que a coisa não será boa quando no caminho para a casa de Amanda, Maud passa por um parque de diversões o que, em filmes de terror raramente simbolizam um bom presságio. Porém a narrativa é um slow burning – de “queima lenta” -, ou seja, os acontecimentos tem um tom monótona e introspectivo, como a vida da protagonista, salpicados por seus acessos ao oculto com “orgasmos divinos”.


Fisicamente, o filme é feito por espaços amplos, uma mansão, um hospital, uma cidade litorânea que se tornam claustrofóbicos com quadros fechados e iluminação amarronzada. A direção de arte tem um interessante papel na casa de Amanda, são vistas muitas estampas que lutam por seus espaços dentro do mesmo cômoda, uma porção de informações visuais que pulsa silenciosamente por atenção. Essa escolha estética serve tanto para representar a índole criativa da personagem de Ehle quanto para pincelar a fragmentação da enfermeira que ao longo do filme clama pelos conselhos Dele, perde-se e se encontra, ou melhor, encontra-o.


Além da arte e da fotografia, montagem e design sonoro criam a ambiência craquelada da psique de Maud: há silêncios onde não deveria haver pois vê-se fontes sonoras bem determinadas, apontando para a dissociação da realidade; cortes que funcionam como piscadas que sugerem a confusão das situações, o clima se fechando sobre a personagem, a ansiedade despertando. Essas estratégias de direção reforçam o ponto de vista que o espectador acompanha, recebendo a história totalmente pelas lentes de Maud, sua visão, sua voz na narração, exceto, talvez, em seu literal último segundo.


Fica à critério do espectador interpretar a religiosidade de Maud como alguém que realmente recebe alguma espécie de visão mais elevada ou uma pessoa traumatizada, perdida e solitária que busca em si uma voz de outrem.

Apesar da visualidade instigante, um roteiro bem construído tanto na trama quanto na recorrência de signos e a premissa de um horror psicológico latente que é capaz de manter uma tensão intrigante, Saint Maud encontra seu ponto mais interessante na sequência final e então acaba, sem ficar claro o que buscava discutir – é um olhar sobre a religião, é sobre uma mulher sozinha ou, ainda, sobre a morte? – e por isso pode se tornar vazio, pois ao tentar abraçar tantos temas, sobrecarrega sua mensagem.


Contudo, nem todo filme precisa elevar seu espectador ou transmitir-lhe algo claro, sendo assim, este é uma experiência válida e levanta questões interessantes, mesmo não as desdobrando.


Escrito por Giovana Pedrilho


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