The Father (2021), dirigido por Florian Zeller, é uma adaptação de uma peça francesa escrita pelo próprio Zeller. Indicado a 6 Oscar no ano de 2021, incluindo Melhor Filme, venceu a “competição” para “Melhor Ator” e “Roteiro Adaptado”. Ganhou também em categorias importantes de diversos outros prêmios.
O filme é estrelado por Anthony Hopkins e Olivia Colman, e conta com poucos outros atores e atrizes, de certo renome (como Mark Gattis, Imogen Poots e Olivia Williams), e conta a história de Anthony, um senhor idoso morando em seu apartamento em Londres, que sofre de demência.
Quando falamos em Oscar, é impossível começar uma discussão séria sem falar sobre o clássico “Oscar Bait”. Oscar Bait é um filme feito com a temporada de premiações em mente, contando com grandes nomes na atuação ou direção. Geralmente, caem em algumas categorias, como: dramas de guerra, adaptações de peças, dramas familiares, filmes do Tom Hanks, dramas baseados em fatos reais, dramas de época, etc.
A história do “gênero” começa com Deer Hunter, de 1978, um drama de guerra estrelando Robert DeNiro, que foi distribuído com marketing específico para os membros da academia, e com foco no público geral após a premiação (no final, levando 5 prêmios, incluindo Melhor Filme). O plano deu certo, e o sucesso de crítica trouxe o sucesso de público.
Desde então, muitos outros filmes adaptaram essa estratégia, com resultados variáveis. Alguns notáveis são 12 Anos de Escravidão, O Discurso do Rei, J. Edgar, O Aviador, O Retorno, Spotlight, Cavalo de Guerra, Um Sonho Possível, Green Book, Uma Mente Brilhante, Crash, etc.
A classificação como Oscar Bait não é em nenhum modo um julgamento de qualidade sobre os filmes assim rotulados. Alguns simplesmente sofrem de uma campanha pela distribuidora que decide utilizar a temporada de premiações para alavancar o lucro de um filme, crendo ter uma obra vencedora em mãos.
The Father pareceu ser mais um desses Oscar Baits. Aparentemente um projeto querido do diretor (que também escreveu a peça original), Zeller escreveu o papel do filme com Hopkins em mente e, segundo o próprio, se Hopkins não aceitasse, a produção seria francesa (país de origem da peça e do diretor).
Sendo um drama familiar, com grandes atores escalados, seria fácil dispensar The Father como Oscar Bait e nunca mais se preocupar com a obra. Mesmo não sendo um julgamento sobre a qualidade de um filme, o rótulo de Oscar Bait afasta as pessoas que não querem ser manipuladas pelo marketing do cinema.
No entanto, The Father merece lugar entre os grandes filmes produzidos nos últimos anos, transcedendo sua presença na última premiação do Oscar, que parece perder credibilidade, prestígio e relevância a cada ano – a última cerimônia teve uma queda significante de audiência.
The Father utiliza com maestria as convenções do cinema para expressar a experiência degradante da perda de memória, autonomia e dignidade que são trazidas pela demência.
Personagens são interpretados por atores diferentes, acontecimentos ocorrem de forma não linear, diálogos são repetidos, espaços são condensados e misturados, enquanto acompanhamos a vida desse senhor idoso, que utiliza suas últimas forças para manter um pouco de autonomia e independência no final de sua vida.
A atenção dada para o design dos sets (com o talentoso Peter Francis chefiando), que se transformam sem que o público ou o personagem principal perceba, é digno de nota, tanto quanto a direção ou a atuação.
O final do filme é de cortar o coração: a perda completa da sanidade de Anthony no meio do turbilhão confuso de pessoas estranhas, histórias misturadas, dias misturados e fotos de estranhos pelo quarto é muito bem interpretada pelo veterano Anthony Hopkins, bem escrito com muito respeito pela realidade da situação.
The Father transcende o Oscar Bait, se tornando uma adição surpreendente e necessária para qualquer lista de melhores do Ano, sendo uma obra que domina completamente a linguagem cinematográfica.
Escrito por Fernando Cazelli
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