Oscar 2021: Crítica dos 5 Curtas Documentais
- Equipe
- 31 de mar. de 2021
- 4 min de leitura
Em 2021 tivemos uma ótima seleção de curta metragens documentários no Oscar. Todos bem diferentes em linguagens e abordagens. Mas um discurso permeia os cinco filmes escolhidos este ano, a luta contra algum tipo de sistema e as injustiças que são causadas. Estes são os cinco indicados a melhor documentário em curta metragem.
A Concerto is a Conversation - Ben Proudfoot e Kris Bowers (2021)

Na véspera da estreia da sua primeira composição para um concerto o compositor Kris Bowers (Green Book, Olhos que condenam) e seu avô tem uma conversa sobre a vida dos dois. Um documentário intimista que toca na juventude de dois homens negros de duas gerações diferentes nos estados unidos. O mais velho em sua jornada para sair do sul do país buscando conhecer o país durante o auge das leis Jim Crow, leis de segregação racial nos EUA. E o mais novo na sua infância enquanto se apaixona pela música e em especial pelo piano. Extremamente bem fotografado e montado, podemos sentir o grande carinho que avô e neto nutrem um pelo outro e o grande interesse que tem por suas vidas. A música também de Kris Bowers é um dos pontos altos do filme. De fato é muito bonito e divertido.
A Love Song for Latasha - Sophia Nahli Allison (2019)

O filme relembra a história de Latasha Harlins, jovem negra de 15 anos assassinada pela dona de uma loja de conveniências após ser injustamente acusada de tentar roubar uma garrafa de suco em 1991. O filme utiliza de narrações de uma amiga e uma prima de Latasha, buscando muito mais conhecer a menina, sua personalidade, seus gostos e relações do que o assassinato em si e suas consequências, até por que já existem filmes que focam mais nessas consequências, como LA 92 de T.J. Martin, Daniel Lindsay. O filme também apresenta uma série de imagens performáticas da juventude negra de Los Angeles junto de uma série de interferências extremamente criativas na imagem. Extremamente emocionante, a memória de Latasha é retratada com extrema delicadeza e com carinho. Seus conhecidos ainda sofrem com sua morte e somos convidados a compartilhar do luto com eles.
Colette - Anthony Giacchino (2020)

Uma jovem pesquisadora das vidas dos franceses mortos nos campos de concentração nazistas encontra uma Colette uma senhora de 90 anos membro da resistência que perdeu seu irmão em um dos campos na Alemanha. O filme lembra muito Shoa, documentário dirigido por Claude Lanzmann sobre os campos de concentração, a câmera baixa acompanhando os trilhos do trem que chegam ao local, a crueza dos depoimentos e acima de tudo o sofrimento dos que sobreviveram aos horrores da guerra. Mas Colette se foca na relação criada entre as duas mulheres e pelo laço que constroem ao visitar as ruínas do campo de concentração que o irmão de Colette foi morto. É possível sentir o esforço que a jovem faz ao entrevistar Colette, que está igualmente emocionada. É um filme belíssimo, forte e com um mote repetido algumas vezes que ecoa, não podemos deixar que isso ocorra novamente.
Do Not Split - Anders Hammer (2020)

Situado durante os protestos em Hong Kong de 2019, Do Not Split mostra a reação dos manifestantes com o aumento da violência policial. O tema dos protestos é complexo e para ser sincero não tenho conhecimento nem mesmo para tomar um lado no assunto. Mas o filme em si toma. Está do lado dos protestantes tanto de maneira política quanto física. A câmera está no meio dos protestos, o espectador vira mais um dentro da massa que clama por reformas políticas no país. Vemos a organização dos jovens nas ruas e os conflitos causados. O filme capta imagens absolutamente únicas, como o caminho de manifestantes por telhados para se refugiarem dos policiais dentro da Universidade de Hong Kong, e do cerco que esses mesmos manifestantes sofrem dentro da universidade. É que tenta ao mesmo tempo nos apresentar a um panorama geral dos protestos como nos colocar na pele de um protestante, competente em ambos objetivos.
Hunger Ward - Skye Fitzgerald (2020)

Em um Iêmen devastado pela guerra, duas mulheres coordenam as principais unidades de tratamento de subnutrição infantil do país. Hunger Ward anda em uma linha tênue entre ser exploratório com a situação que retrata e conseguir denunciar o sofrimento de uma população. Em diversos momentos o filme se desequilibra e cai na exploração. A imagem de crianças mortas e de suas famílias em desespero servem para nada além de causar um choque no público. Entendo que o filme precisa ser forte para poder fazer a denúncia que quer, mas existem outras imagens um pouco menos exploratórias que conseguem dar o peso necessário para o filme. Além disso, mesmo sendo um filme sobre a Guerra do Iêmen, a guerra em si parece estar desconexa do filme, ela parece ser mais um comentário que passa quase despercebido do que a causa do caos que os personagens vivem. Não há contextualização da guerra além de três cartelas de texto no final que não dão muitas informações. É um filme sobre um assunto importante e delicado, que não poderia ser abordado de forma rasa e simplista sendo feito exatamente desta forma.
Escrito por João Cardoso
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