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Crítica: O Esquadrão Suicida - James Gunn (2021)

O que aconteceria se fosse colocado alguém que assistiu e reassistiu incontáveis vezes os filmes de Lloyd Kaufman, lendário diretor de filmes trash dos estados unidos, criador da Troma Entertainment e responsável por obras como O Vingador Tóxico, Tromeu e Julieta e Shakespeare Shitstorm, para dirigir um filme de super herói? Spoiler: Daria O Esquadrão Suicida, James Gunn é exatamente esta pessoa.

Após um desastroso primeiro filme que tentava alcançar muitas coisas e em nenhum momento alcançava nenhuma O Esquadrão Suicida volta com uma extremamente bem vinda repaginada, um tom e estética completamente diferente e com a talvez melhor estratégia de roteiro para um filme sobre um esquadrão de vilões que realiza as mais impossíveis e secretas missões, qualquer personagem pode morrer. Esse sentimento é carregado ao longo do filme brilhantemente, somos apresentados a personagens extremamente interessantes que rapidamente nos cativam seja pela estranheza ou pela graça, que independente do quanto gostamos deles, eles provavelmente vão sofrer uma morte anticlimática, mas muito, muito divertida.


O grande acerto do filme está em seus personagens que independentemente de o quão pouco apareçam em tela não falham em nos cativar e surpreender com sua profundidade na medida certa, que nos deixa sempre querendo mais, mas sem nunca nos deixar perdidos (menos quando se trata do Weasel, ele só não faz sentido e isso é lindo). O filme tenta a todo momento nos surpreender com esse time disfuncional e suas personalidades peculiares, isso somado com ótimas atuações de todo o elenco principal nos deixa extremamente engajados com os acontecimentos do filme.

Claramente é notada a maior liberdade criativa que James Gunn teve em relação aos seus dois filmes na Marvel, há uma preocupação muito menor na criação de um grande universo cinematográfico entre conectado e mais na construção de um bom filme, a comédia é constante e até grotesca em diversos momentos (eu não consigo descrever o quanto eu ri com a sequência inicial do filme), a musicalidade, que já era muito presente nos filmes anteriores do diretor, volta com mais variedade estilística nas músicas licenciadas (até música brasileira tem), no entanto as músicas originais do filme não tem o mesmo encanto ou qualidade, são várias músicas meio genéricas que não empolgam. A freneticidade dos acontecimentos é também muito gostosa, sempre algo diferente está acontecendo, que não necessariamente precisa avançar a história pra frente, as vezes é só uma graça por uma graça mesmo.


Mas nem tudo são rosas os momentos mais dramáticos do filme são claramente mais fracos que os momentos cômicos, ficando algumas vezes arrastado, não chega a ser chato, mas eu sentia vontade que passasse logo e voltasse para o frenesi de ação exagerada cômica em que o filme mantém em grande parte de sua duração. Como havia dito anteriormente, as músicas originais são um pouco genéricas e cansativas. E a bandeira do país fictício de Corto Maltese é a bandeira mais feia que eu já vi na minha vida, sentia um profundo ódio no coração cada vez que aparecia.

A última coisa que gostaria de levantar é a clara referência que Gunn faz aos filmes da lendária Troma, em especial a um que tem um espaço muito especial no meu coração, O Vingador Tóxico. Para quem não conhece a Troma ela é uma produtora de filmes Trash estadunidenses encabeçada por Lloyd Kaufman. Dentro de seus mais diversos filmes o mais famoso de todos é o Vingador Tóxico, uma série de filmes do super herói mais violento e grotesco que já existiu, o filme é uma sátira a sociedade americana e toda a sua hipocrisia, enquanto abraça essa cultura de violência extrema e consumismo rápido. O filme é um nojo e é exatamente isso que faz ser tão bom. Gunn estreou no cinema em um dos filmes da Troma, Tromeu e Julieta, uma versão ao bom estilo Troma da história de Romeu e Julieta. Além de escrever uma biografia sobre Lloyd Kaufman.


Digo tudo isso para dizer que O Esquadrão Suicida é o mais próximo que temos de um filme da Troma com uma roupagem blockbuster, uma roupagem bem influente diga-se de passagem. Mas parte do sentimento está ali, o grotesco, a comédia de qualidade duvidosa, o sangue exagerado a violência acima do necessário a crítica aos EUA, que no filme é comedida, mas está ali, o próprio Kaufmann faz uma aparição no filme! Este é um filme de um diretor que muito admirou seu mestre que agora finalmente tem a liberdade de fazer um filme parecido porém com o massivo apoio financeiro do mainstream de Hollywood.

Por fim, O Esquadrão Suicida é um ótimo filme, mesmo com algumas pequenas intempéries e que me deixa extremamente animado para o futuro da carreira de James Gunn e o coloca, para mim, como o melhor diretor de filmes de super heróis que temos atualmente.

Escrito por João Cardoso

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