Após o colapso econômico de uma colônia industrial na zona rural de Nevada (EUA), Fern (Frances McDormand) reúne suas coisas em uma van e parte rumo a uma viagem exploratória, fora da sociedade dominante, como uma nômade dos tempos modernos.
Em um país dominado pela ideologia do mercado e do neoliberalismo econômico que constantemente e ciclicamente passa por crises, a classe proletária mais desfavorecida acaba por não possuir um sistema de saúde gratuito ou aposentadoria digna sendo oferecida pelo, estado quase inexistente em algumas áreas. No meio disso as pessoas lutam para sobreviver pulando de emprego em emprego para poder obter comida para sobreviver. Durante o filme nós podemos conhecer a história de várias dessas pessoas, uma delas é Fern, uma mulher viúva que dedica sua vida à viajar pelo país em sua van.
Uma música de Morrisey é citada no início do filme, a letra fala algo como: "Lar é só uma palavra? Ou é algo que você carrega dentro de você?". O espírito do filme se desenrola a partir dessa letra. O contraste claro entre o aconchego da van de Fern e seu exterior hostil e pouco convidativo faz com que o conceito de lar seja esticado diversas vezes durante o filme.
A sensibilidade e humanidade de Nomadland é seu ponto mais alto, diversas vezes podemos presenciar momentos íntimos da protagonista que durante boa parte do filme experimenta momentos de solidão. Vemos o dia a dia dessa pessoa que possui uma vida bem diferente da que estamos acostumados. Os diferentes problemas que ela enfrenta com as limitações da sua moradia são sempre explicitados, isso gera empatia na sua forma mais pura.
Assim como o contraste de ambientes, o filme explora as nuances entre a solidão da personagem e a relação dela com as outras pessoas que orbitam o ambiente da protagonista. A humanidade, sinceridade e gentileza essas relações são o motor da trama que se ampara em coadjuvantes extremamente interessantes e profundos, mesmo com poucas falas.
Nomadland é um filme muito bonito, traz cenas de tirar o fôlego quando mostra os diferentes tons no céu, a paisagem por vezes opressora, mostra um país que mesmo com vários problemas, tem o potencial de encantar por natureza. As singularidades do longa se encontram na sua forma de contar uma história simples, estabelecendo acima de tudo, empatia e senso de comunidade. Muito bom pra aquecer o coração durante a pandemia.
Escrito por Gabriel Pinheiro
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