Crítica: Infiltrado na Klan - Spike Lee (2018)
- Equipe
- 27 de nov. de 2018
- 3 min de leitura
Em 1978, Ron Stallworth, um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas. (Fonte)

Uma história baseada em acontecimentos reais de um rapaz negro com um estiloso penteado black power realiza seu sonho de entrar na polícia e lá realiza uma operação para desmascarar uma seita racista em companhia de um colega de trabalho judeu que se passa por branco. Basicamente essa é a premissa de Infiltrado na Ku Klux Klan.
Em primeiro lugar, a fórmula a qual o filme foi feita já fora presenciada em diversos filmes e séries, que consiste basicamente em uma mistura de jornada do herói, batalha entre bem e o mal e um episódio de The Wire, não obstante o autor que interpretava Clay Davis na série deu as caras no início do filme. Não que o fato dos idealizadores terem apostado em um caminho mais seguro e menos passível de erros e não terem inventado a roda seja um demérito, Blakkklansmen funcionou muito bem, e é bastante consistente no geral, rendendo momentos divertidos, emocionantes e revoltantes sempre que necessário mas focando na mensagem social que basicamente dita o filme.

A fotografia é bonita com cores fortes e até sombrias, mas nada deslumbrante, apesar das referências a cinemática de filmes dos anos setenta interpretados por atrizes como Pam Grier. O elenco fora bem escolhido, as atuações são de competentes para boas, destacando o ator que fez Dr. Dre em Straight Outta Compton na hora do discurso no início do filme, um trabalho primoroso, absolutamente convincente e de causar arrepios.
A trilha sonora é boa da mesma maneira que a fotografia, não excelente mas decente, como se não fosse o foco principal do filme. O publico pouco vai reconhecer as canções, que consistem, claro, em música negra da década de sessenta em sua maior parte.
Infiltrado na Klan não mostra-se um filme necessariamente visual ou semiótico.

De longe, o maior mérito do filme está no seu ar de denúncia e nos questionamentos que deixa na cabeça dos espectadores. É triste pensar que em mais de quinhentos anos de história não houve tanta evolução no modo de pensar de certas pessoas.
Deprimente um filme que representa a década de 60 ser tão atual em pleno 2018. Mais do que um teor histórico, o filme choca por fazer com que o publico identifique-se ainda hoje com tanto ódio, preconceito e conivência, inclusive vindo daqueles a que se chama agentes da lei, sendo muito fácil achar semelhanças entre eles as organizações racistas.
Como mostra o filme, apesar de focar nos negros, não são somente eles, mas outras minorias como judeus e estrangeiros tem de lutar para ter uma mínima vida decente de uma pessoa “pura". Infiltrado na Klan é um bálsamo para estas minorias, um aviso de que estas pessoas não estão sozinhas, há justiça no mundo ainda que pouca.

Quanto ao final, o filme não só terminou triste como este final dura até hoje. Não é necessário que o filme tenha uma linguagem transcendental para jogar as cartas na mesa sobre a realidade na sociedade, emocionar o publico e ainda causar muita ressaca moral. Por estas razões Infiltrado na Klan é ótimo. Ácido, contundente, bem redigido e absolutamente necessário. O que consola em meio a todos esses problemas sociais é ser beijado com obras como esta, que põe o dedo na ferida sem medo algum. Por outro lado, quantos mais Infiltrados na Klan serão necessários?
Escrito por André Germano
Comments