Narrado pelo próprio Jean-Luc Godard, o longa mostra o mundo árabe e ocidental com imagens de diversas origens —filmes antigos, fotografias, imagens de arquivo e, por meio de uma linguagem que remete aos filmes de terror, retrata a violência da atualidade. (Fonte)
“Por exigência do diretor Jean Luc Godard, alguns diálogos não foram traduzidos” e é aí, logo no primeiro segundo exibição que percebemos onde estamos nos metendo. Imagem e Palavra é o novo filme do diretor francês, e eu não tenho como escrever uma crítica direta à esse filme pelo simples fato dele ignorar qualquer fator estético ou de linguagem objetivos, com o qual eu possa usar de arma para confrontá-lo.
Se o último filme de Godard se chamou “Adeus à Linguagem”, esse deveria se chamar “Imagem e Palavra – %@#$-se a Linguagem”
O “video-ensaio” de Godard é constituído de uma seleção de imagens de filmes, vídeos da internet, programas de TV e fotografias completamente desconexas uns dos outros e sem nenhuma linha narrativa. Aliado à essas imagens há uma sucessão de áudios que são às vezes narrações do próprio diretor, ou diálogos de filmes antigos. Às vezes conectados ao que vemos na tela e na maioria das vezes, completamente desconectados.
A antropofagia cinematográfica proposta por ele aqui é no auge do sentido, uma mistureba de coisas sem sentido é apropriada pelo diretor e cuspida em uma nova forma audiovisual que é incoerente e sem coesão dentro de si mesma no âmbito da linguagem do cinema. Seria como se o expressionismo abstrato contemporâneo se aliasse ao cinema e através da formula proposta pela arte visual, o filme foi feito. “Nada é tão cômodo quanto um texto”, é possível pescar em certo momento do filme (onde as legendas estavam ligadas). Essa frase pode sintetizar todo o trabalho feito aqui, as imagens e palavras que são elementos que derivam do concreto tomam uma forma ressignificada abstrata com um comentário político sobre a guerra no oriente médio da metade para o final.
Obviamente um tema extremamente importante, porém porcamente utilizado como desculpa para Jean-Luc Godard fazer uma saída triunfante da sua carreira cinematográfica. Não me entenda mal, eu sou fã da cultura dos vídeo-ensaios, porém nada que eu já tenha visto foi uma experiência tão torturante assim. Se ele queria realmente falar sobre a guerra do oriente médio através de uma produção desse tipo, então seria muito mais proveitoso fazer isso durante todo o filme, e não focar em seus próprios devaneios cinéfilo-psicóticos.
É até possível perceber de vez em quando o quê exatamente o diretor quer dizer com aquelas aleatoriedades, porém, as divagações são o foco da experiência e tudo parece que não faz sentido, exatamente, por que não o faz. Cada vez que nossa cabeça, ávida por encontrar alguma coerência sincrônica audiovisual, atinge seu objetivo, é como um coito interrompido que acaba tão rápido quanto chegamos ao êxtase naquela experiência.
Não há princípio objetivo que possa servir de norte para o julgamento dessa obra uma vez que essa existe para além do espectador. Esse filme, por todos esses motivos antes citados, independe do espectador, pois a mesma se despe de qualquer coisa que essa pessoa possa assimilar para ela. É como se o cinema existisse para ele mesmo de uma forma que, ele é o autossuficiente que decodifica e transcreve aquilo que ele mesmo está tentando passar na tela.
Não há sentido, não há por que procurar sentido, ele existe para além do sentido. Apesar de ser poeticamente transgressor, “Imagem e Palavra” não empolga nem um pouco e quando começa a querer discutir a guerra do oriente médio, já perdeu metade do público que ora está roncando ora está olhando para o teto.
Escrito por Gabriel Pinheiro
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