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Crítica: Free Solo - Jimmy Chin e Elizabeth Chai (2018)

Uma análise rápida e sem equipamentos de segurança.

“I think it's the best thing in life to be able to take the one thing you love the most and have it, like, work out that you can make a living that way.” -Alex Honnold

Aos 30 anos de idade, Alex Honnold já era um dos mais renomados alpinistas de sua geração. Porém, independente de todas as suas conquistas, ele permaneceu obcecado com um desafio que nenhum outro alpinista havia conseguido realizar: escalar sem equipamento de segurança a rocha El Capitan, no Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia. (Fonte)


Dos já experientes cineastas Jimmy Chin e Elizabeth Chai (cobrem há tempos o mundo do alpinismo) é um dos documentários mais tensos e interessantes que eu já vi.


Todo documentário depende muito do seu objeto de pesquisa. Seja um grupo de extermínio na Indonésia, uma Juíza Suprema americana feminista, o filme se faz na história dessa pessoa ou grupo, nas suas interações com o mundo, nos seus conflitos.

É claro, que o resto também depende de como o documentário é montado: deve haver uma trama, um ponto de tensão, uma premissa forte e compatível com o personagem. E Free Solo executa cada um desses desafios com maestria.


O primeiro aspecto que chama atenção no filme é a fotografia maravilhosa. O El Cap (a rocha gigantesca nunca escalada no estilo de Honnold) e o parque Yosemite, na Califórnia, são um espetáculo visual, e o filme não deixa de esconder que quer te impressionar com as imagens do local.


A grandiosidade do obstáculo que o El Cap representa fica clara durante todo o filme, o que faz com que a tensão do “roteiro” do filme sempre cresça, culminando na derradeira tentativa da escalada no final.

Mas o maior atrativo de Free Solo é a personalidade de Alex Honnold. Suas façanhas são no mundo da escalada Free Solo, um estilo que não utiliza nenhum equipamento de segurança: somente as roupas e o pó de cal. Ele é famoso no mundo do alpinismo por ter conquistado diversas paredes antes tidas como impossíveis para o seu estilo.


Fica muito claro durante o filme que é um estilo extremamente perigoso, e que as rotas devem ser muito bem calculadas e traçadas com precisão. Um só erro pode custar a vida de Honnold e ele (e todas as pessoas que o conhecem) sabem disso.


Esse é o centro emocional do filme: Honnold leva uma vida em que sabe que pode morrer a qualquer momento. Mas não faz isso pela fama, ou pelo dinheiro, ele se sente vivo fazendo isso, escalando essas montanhas impossíveis usando apenas seu corpo.


E é assim que o filme cresce em um arco emocional poucas vezes visto em documentários: todos os perigos e possíveis deslizes que Alex pode cometer são explicados, todos os colegas dele que já morreram fazendo isso são lembrados, todos os entes queridos dele têm um momento para extravasar seus medos e ansiedades

E a culminação desse arco definitivamente não decepciona. O filme leva o espectador para a jornada junto com Honnold, entendendo os riscos, os medos e o perigo. O final certamente deixará muita gente tensa procurando o nome do protagonista no Google para saber se ele saiu vivo desse filme.


Um outro ponto interessante que Free Solo levanta é o da ética do documentarista. Jimmy (um dos diretores e personagem do filme) é amigo pessoal de Alex, e em muitos momentos, se questiona sobre como seria se tivesse que agir no caso de o pior acontecer. Claramente, a escolha em escalar é de Alex, mas a gravação do filme pode acabar interferindo nos seus processos e, no final, na sua escalada.


Free Solo é um documentário muito bem construído, com um arco emocionante, personagens interessantes e fotografia única.


Escrito por Fernando Cazelli

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