O longa, segundo da Sofia Copolla, é um clássico moderno e se mostra relevante mesmo depois de quase vinte anos de existência. Além disso, é uma película que passeia com maestria entre vários gêneros diferentes.
O filme se passa em Tóquio, onde está Bob Harris (Bill Murray), um ator famoso que vai para lá gravar um comercial de uísque. Seu destino cruza o de Charlotte (Scarlett Johansson), que está na cidade acompanhando seu marido, um fotógrafo de celebridades que dá mais atenção ao trabalho do que a esposa. Sofrendo com fuso horário, o sentimento de não pertencimento em uma terra estrangeira e a angústia, ambos se encontram em uma noite de insônia, em um bar de um hotel de luxo, da onde a trama começa a se desenvolver.
Interessante como o filme desenvolve uma história calcada na trivialidade e no dia-a-dia e ainda assim consegue ser bastante abrangente em questão de temas, como a comunicação em um país estrangeiro, que fica comprometida e por vezes ridícula, com bastante uso de gestos e onomatopeias, o que é aproveitado como um recurso humorístico.
Além disso, o segundo "neto de Francis Ford Copolla" transita pelo drama ao abordar questões como a solidão, usando os protagonistas de formas diferentes para falar do mesmo tema, isto é, Bob se divorciou e se sente sozinho, mesmo com a fama e uma proposta tentadora no comercial que está gravando, e Charlotte, que está casada mas se sente desprezada por seu marido, o que pode ser somado com o fato de que está em uma terra desconhecida, portanto, solitária.
É pertinente notar também e transição precisa de sensações, alinhados com muita técnica a uma trilha sonora excelente, que deixa a trama bem sensorial e direciona momentos felizes como um karaokê, – símbolo cultural do Japão, aliás – momentos mais reflexivos como quando as personagens principais estão em seus quartos e também em momentos de incerteza, como nas cenas próximas ao final.
No segundo ato, o longa abandona o desenvolvimento do marido da personagem da futura Viúva Negra, mas isso de maneira alguma estraga o filme, pelo contrário, sobram mais lacunas para os diálogos e ações que expõem a rotina dos protagonistas, como se eles estivessem se despindo emocionalmente na tela ou escrevendo um diário, recursos que deixam abertura para empatia. Quando eles estão felizes, o espectador sorri junto, quando alguém se fere, é natural você perguntar se está bem, mesmo que mentalmente, e nos momentos de tensão, dá aquele famoso frio na barriga.
No final, é possível observar o suspense da trama aumentando de forma gradativa e gerando duvida nos personagens e no público, o que se enquadra em uma pitada de mistério, convertido em romance melodramático na última cena, entregando um final satisfatório.
Encontros e Desencontros tem uma precisão cirúrgica para mexer com o emocional dos espectadores e consegue fazer muito bem uma viagem dentro dos sentimentos e da solidão, por isso envelheceu muito bem, ainda mais nos tempos atuais, onde a sociedade é uma das mais solitárias de toda a história humana. Filmes humanos costumam vencer a prova do tempo de uma maneira geral.
Leve uma caixa de lenços quando for assistir.
Escrito por André Germano
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