Destacamento Blood conta a história de quatro veteranos de guerra afro-americanos que voltam ao Vietnã à procura dos restos mortais de seu comandante e de um tesouro que enterraram enquanto serviam por lá. O mais novo “joint” de Spike Lee foi indicado ao Oscar apenas por melhor trilha sonora original, feita por Terence Blanchard, o que para muitos é um absurdo, já que o filme tem muito mais a oferecer.
Logo de cara, percebemos a clara visão política do cineasta, principalmente contra o governo de Donald Trump e a favor das causas sociais, especialmente a dos negros, tema que é sua marca registrada. Inspirado nisso, temos um vilão sádico de extrema-direita, que peca por sua unilateralidade e falta de profundidade. Além disso, um dos protagonistas usa um boné do ex-presidente dos Estados Unidos escrito “Make américa great again”, denotando que o personagem está defendendo um lado duvidoso, mas não dando muita importância a esta característica. Sobre os efeitos especiais, cenas como explosões e mutilações podem parecer um pouco toscas.
Aqui, o diretor aposta em um formato épico, com mais de duas horas e meia de duração, o que passa a funcionar melhor mais para frente. O primeiro ato pode ser um pouco parado, mas funciona para pegar na mão do apresentador enquanto apresenta os cinco amigos ex-combatentes. Com um brando e gostoso clima de nostalgia, que é melhor realçado no segundo ato, de longe a melhor parte da película, repleto de cenas épicas e artísticas, jogos com a imaginação, ângulos de câmeras variados que brincam com a velocidade e a linha do tempo, enquanto evidencia cores que lembram filmes de guerra como Platoon e Apocalypse Now.
Ao passo que prende o espectador através da química maravilhosa entre os amigos garimpeiros, uma relação repleta de camadas, com nuances entre brigas e lembranças nostálgicas. O terceiro ato é anticlimático, especialmente quando surge o antagonista, que já não é tão bem desenvolvido e esquecido ao longo da história, além de acontecimentos que ocorrem de forma muito fácil, além de certas conclusões bruscas.
Destacamento Blood tem notáveis defeitos, como ao mostrar uma faceta política só por mostrar, ao contrário de outras obras de Spike Lee, que fazem isso de forma mais argumentativa e menos cuspida, mas também tem seus méritos, principalmente ao evidenciar novamente o talento do diretor em construir relações sólidas entre personagens e visuais marcantes para suas obras.
Escrito por André Germano
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