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Crítica: Altlantique - Mati Diop (2019)

Além de Bacurau um outro filme também ganhou o prêmio do júri no festival de Cannes de 2019. Este filme é Altlantique, o longa de estreia da diretora Mati Diop. Antes de qualquer análise é importante entender o marco que o filme consegue alcançar. Em 72 edições do festival de Cannes, Atlantique é o primeiro filme dirigido por uma mulher negra a concorrer a palma de ouro, um dado triste, mas que ao mesmo tempo cria expectativas em uma necessária mudança deste quadro.


Em um subúrbio de Dakar, trabalhadores da construção de uma torre futurística, a meses sem pagamento decidem sair do país em um barco com destino a Europa em busca de um futuro melhor. Entre eles Souleiman, amante de Ada, que está prometida a outro. O filme segue Ada após o desaparecimento de seu amor, enquanto é obrigada a casar com um homem que ela não ama, porém certamente irá garantir uma vida de luxo. Tanto Ada quanto um grupo de mulheres que todas as noites vão a uma boate para se encontrar com os homens que entram na jornada praticamente suicida de cruzar o oceano Atlântico.

Atlantique é um filme mágico e surpreendente, que aos poucos vai se revelando ao expectador é possível crer nas primeiras cenas que o filme que veremos será algo, no entanto, de maneira calma e gradual, o filme vai se alterando narrativamente de forma de criar uma novos sentidos e uma força a partir do choque. No entanto muitas coisas se mantem, a fotografia cria um ambiente estranhamente não muito natural que gradualmente se torna precisa na narrativa. Existe uma grande força visual em Atlantique e Mati Diop sabe muito bem usar dessa força para avançar a história.


Outro aspecto importante do filme e que talvez seja a seu maior acerto é a forma que é articulado. Se utiliza frequentemente tempos mortos de forma poética, nos levando a um espaço de reflexão ou de simples observação, algo que parece que Diop quer permitir para o espectador. Repetidas vezes somos levados a ver o mar em toda sua beleza e força, esse mar que causa medo e esperança aos personagens.


Essa utilização de tempos mortos lembra muito os filmes de Ozu. O cineasta japonês que se consagrou como mestre absoluto na utilização de planos em que a história não avançava, porém acabavam por criar climas e ritmos únicos em seus filmes. Entretanto as semelhanças entre o Atlantique e os filmes de Ozu não param aí. O uso de falsos racords é uma característica muito presente, porém no passo que Ozu os utilizava para uma decupagem intra-cena em que as composições o agradassem, Diop os leva para um campo mais extremo. Eles são utilizados para fazer cortes tanto intra como entre cenas, cada um criando seu sentido e seus desdobramentos próprios.

Dessa forma Atlantique se torna sem dúvida um dos meus filmes favoritos de 2019. Lindo, bem feito e com um roteiro surpreendente que traz a força uma força feminina para o protagonismo. Fico extremamente esperançoso para os próximos trabalhos de Mati Diop e crente que ela pode se tornar um dos grandes nomes do cinema senegalês, junto de Ousmane Sembene, Safi Faye e Djibril Diop Mabémty


Escrito por João Cardoso


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