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Crítica: Alien, O Oitavo Passageiro - Ridley Scott (1979)

Uma nave espacial, ao retornar para Terra, recebe estranhos sinais vindos de um asteroide. Ao investigarem o local, um dos tripulantes é atacado por um estranho ser. O que parecia ser um ataque isolado se transforma em um terror constante, pois o tripulante atacado levou para dentro da nave o embrião de um alienígena, que não para de crescer e tem como meta matar toda a tripulação. (Fonte)

O pavor existencial da cadeia alimentar

Um clássico do horror espacial, Alien é um filme que, além de trazer uma trama tensa e amedrontadora, nos faz questionar nosso lugar no Universo. Do até então desconhecido Ridley Scott, o filme apresenta uma versão do futuro em que a humanidade parece ser a espécie dominante, mas até certo ponto.


A descoberta da espécie desconhecida (o Xenomorph) durante a viagem da Nostromo desperta o interesse da Wallace Corporation, que desvia a rota da nave para que os tripulantes investiguem essa descoberta. Esse é o incidente que inicia o filme: após os créditos, vemos os tripulantes acordando para descobrirem que sua rota foi alterada, e que há um planeta que devem investigar.


E a partir daí, a trama já é bem conhecida de todos: os tripulantes investigam, descobrem os ovos abandonados, um dos viajantes é atacado e leva o monstro para dentro da nave.


A partir daí, vemos o filme explorando suas duas idéias centrais: 1) a descoberta dos tripulantes de que são considerados “dispensáveis” pelos seus empregadores em troca da descoberta de uma espécie nova e; 2) a descoberta de uma nova raça capaz de subjugar com facilidade a raça humana.

“Bring back life form. Priority One. All other priorities rescinded.”

O primeiro tema explorado envolve a luta dos seres humanos contra os interesses corporativos quando esses se tornam prioridade ante a própria sobrevivência dos humanos que realizam o trabalho.


O personagem que mais demonstra essa dualidade é Ash: visto pelos outros tripulantes da nave como o chefe da divisão de ciências, Ash é, na verdade, um androide controlado pela Corporação colocado lá para controlar a situação e manipular os eventos em favor de seus mestres. Do outro lado desse espectro, temos Brett e Parker, os dois responsáveis pela manutenção da nave.


Após o ataque no planeta desconhecido, vemos que é por culpa de Ash que o espécime é trazido para dentro da nave, contra a vontade da capitã atuante. É nesse conflito que vemos esse tema do filme vindo à tona: a decisão de Ash coloca a tripulação em risco, mas avança a possibilidade de descoberta desse espécime que foi descoberto no planeta.


O conflito evolui durante o filme, até que Ripley (agora a capitã da nave) descobre que Ash é um androide, e qual é sua diretiva: trazer o espécime de volta para a Terra, a custo da sobrevivência dos outros tripulantes, se necessário.


O conflito é abruptamente resolvido em um confronto físico entre Ripley e Ash após essa descoberta, que resolve em uma das cenas mais impressionantes (eu tive pesadelos com essa cena quando era criança) do filme.

Sendo assim, qual é a resposta de Alien para esse questionamento? De que o interesse coletivo (a descoberta de uma nova espécie alienígena – que pode avançar a ciência da raça humana) pode ser colocado ante ao interesse de alguns poucos indivíduos e até onde esse custo vale a pena ser pago.


A resposta, infelizmente, não fica clara pois esse tema do filme é mostrado de uma forma um pouco secundária: Alien é um filme de horror, e o horror não nasce dessa faceta apresentada no filme. O filme decide focar muito mais da ameaça que o Alien representa do que na ética de se trazer o Alien de volta a custo de vidas humanas.


Mas, pelo que o filme apresenta, fica clara a mensagem de que conhecimento nenhum é válido se é obtido ao custo de vidas humanas: ao mostrar os horrores sofridos pelos tripulantes da Nostromo, nos identificamos com os personagens, e nunca com a corporação (que vemos somente como uma das vilãs do filme).

“- You still don't understand what you're dealing with, do you? The perfect organism. Its structural perfection is matched only by its hostility. - You admire it. - I admire its purity. A survivor... unclouded by conscience, remorse, or delusions of morality.”

O segundo grande tema de Alien é o confronto da humanidade com uma força alienígena capaz de aniquilá-la a qualquer momento.


Atrás da obra-prima do Horror que é Alien, de seu design de produção impecável e atuações icônicas, há um questionamento existencial que permeia a obra: o que faríamos como uma espécie ao sermos confrontados com um predador implacável, feito quase que perfeitamente para acabar com a vida humana.


É através dos elementos de horror que Scott nos mostra o predador perfeito, o Xenomorph. Capaz de se esconder e caçar perfeitamente, o Xenomorph demonstra capacidades de sobrevivência e de caçar difíceis de compreender e quase impossíveis de serem combatidas.


Nós, como espectadores, vemos os tripulantes da Nostromo tentando entender o que é o Xenomorph e como lutar com ele durante o filme. É dessa luta por compreensão e uma chance de lutar de volta que nasce o terror que é a situação mostrada em Alien.

O desconhecido é um fator que tem um papel importante nesse filme. Como não sabemos o que o Xenomrph pode fazer ou quais são as regras que segue, esse vilão é absolutamente imprevisível: o que os personagens não sabem muitas vezes significa sua destruição.


Temos aqui uma situação onde seis humanos (mais um androide e um gato) devem se adaptar e sobreviver a um predador, em uma situação claustrofóbicas, com recursos extremamente limitados.


Alien é um filme que só ganha ao deixar seus espectadores “no escuro” quanto ao vilão que persegue seus personagens: o próprio Xenomorph tem menos de 5 minutos na tela; não aprendemos quase nada sobre ele no final do filme; não sabemos de onde ele veio, porque existe, quais são suas motivações, etc.


Esse é o elemento crucial em Alien: o desconhecido. Quando o filme acaba, não sabemos quase nada de novo sobre o Xenomorph: fomos confinados na Nostromo junto com os tripulantes e vimos cada um deles sendo caçados e mortos por essa força inigualável, e sabemos que Ripley só sobreviveu por sorte, no final.

Então, voltamos ao questionamento do filme: qual é a reação da humanidade ao encontrar essa raça nova que está acima dela mesma na cadeia alimentar. Vemos o espírito humano lutando de volta contra o Xenomorph: os personagens fazem planos para derrotar-lo, ou sobreviver; vemos a camaradagem entre os personagens; vemos Ripley sobrevivendo sozinha.


A grande lição que Alien busca contar é que a humanidade precisa se adaptar sempre. O espírito humano é um de sobrevivência e adaptabilidade, não importando a ameaça, com alguma engenhosidade, é possível sobreviver (quando não há esperança de derrotar essa ameaça).


Escrito por Fernando Cazelli

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