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Crítica: A Vida Invisível - Karim Aïnouz (2019)

Rio de Janeiro, década de 1940. Eurídice é uma jovem talentosa, mas bastante introvertida. Guida é sua irmã mais velha, e o oposto de seu temperamento em relação ao convívio social. Ambas vivem em um rígido regime patriarcal, o que faz com que trilhem caminhos distintos.

O melodrama tropical de Karim Aïnouz se sobressai pela forma como lida com as sensibilidades das suas personagens. De forma sutil, ele investiga essa crônica que nos envolve de forma tão imersiva. Sua câmera não toma caminhos abruptos, há uma fluidez visual que torna tudo o mais verossímil possível. Os sons da Mata, um Brasil antigo, um Rio de Janeiro vivo e pulsante, nos fazem mergulhar de forma incontrolável na história das duas mulheres. A forma com que ele mostra a cidade e cria o universo do filme, é de um talento inigualável. Nós sentimos aquele Rio e de alguma forma nos conectamos com ele, como uma lembrança distante. As atuações do filme são primorosas, com destaque para as duas protagonistas, esse baile do acaso estruturado entre elas só é acentuado pela interpretetação delas que presta bastante atenção nos mínimos detalhes dos trejeitos de suas personagens e nas sensações que elas sentem durante a cena. Rigores técnicos de uma equipe especialmente formada por mulheres dão um show, com destaque para a montagem, a adaptação e roteiro, a mixagem de som e a trilha sonora.

A trilha e a banda sonora são personagens principais e potentes na trama. A a sinestesia daquele Brasil já nos é apresentado logo de cara. Porém esse aspecto se sobressai quando Eurídice senta ao piano e declara todas as suas sensações, anseios e mágoas. É através daquele instrumento que ela encontra voz. O filme trata sobre como um ambiente machista em um contexto patriarcal pode separar duas almas que se amam é que tem direito nato de se amarem. Suas vidas são constantemente e compulsóriamente guiadas por um sistema que lhes foi imposto e que lhes cega para as situações em que se encontram. Em um eterno desencontro entre essas duas almas machucadas pela falta uma da outra, o diretor consegue mesclar a crueldade com a ternura. O filme de Karim não só expõe os problemas daquele Rio de Janeiro conservador como traça todo o caminho que essa mancha pode afetar por onde passa.

Não é atoa que esse filme foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na competição de filme internacional no Oscar 2020. O filme é uma homenagem às mulheres brasileiras, um recado aos homens, uma lembrança de um Brasil passado e um tapa na cara do povo, pois ele aborda uma situação social, que por mais que pareça distante, ainda é assustadoramente atual.

Escrito por Gabriel Pinheiro

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