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Crítica: Mank - David Fincher (2020)

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    Equipe
  • 16 de mar. de 2021
  • 3 min de leitura

Seguindo a complexa figura de Herman Mankiewicz, Mank, dirigido por David Fincher, conta a história do conturbado processo de roteirização de Cidadão Kane, filme mítico dirigido por Orson Welles em 1941. Mostrando em paralelo o processo da escrita de um Mank decadente e ferido por Hollywood, tanto fisicamente quanto emocionalmente e seu passado na década anterior, sua glória e declínio como roteirista. E, talvez mais importante, sua relação com William Randolph Hearst, notório jornalista que tem sua vida parodiada em Cidadão Kane.

Mank é um filme repleto de contradições, principalmente em seus objetivos estéticos. Quer emular um filme feito em 1940, no entanto passa toda a sua duração buscando estabelecer alguma estética que vá além de “filme dos anos 1940”. Não é possível entender que tipo de filme Mank quer emular, pois ao mesmo tempo que busca uma estrutura do roteiro como a de Cidadão Kane, os elementos plásticos do filme ficam perdidos em diversas referências que pouco parecem conversar entre si. Mank não consegue se achar entre referenciar o estilo médio de dramas dos anos 1940, com uma certa hiperatividade da montagem e da velocidade das falas, ou se vai buscar o estilo grandioso de Welles, principalmente em Cidadão Kane. São planos grandiosos que lembram a grandiosidade de Cidadão Kane tendo pouquíssimo tempo de tela para serem trocados por outros planos comuns sem nada demais. Mesmo assim alguns preceitos básicos Welleanos estão presentes no filme, a grande profundidade de campo sendo o maior deles, tudo que é filmado está em foco.

Mesmo com problemas, Mank não deixa de ter suas qualidades individuais, que são a direção de arte, cenários, objetos, figurinos, cabelos e maquiagem, trilha musical, fotografia e atuações (em parte). Os espaços são muito bem construídos e carregam grande carga para história, em especial o quarto em que Mank escreve o roteiro de Cidadão Kane e o castelo de William Randolph Hearst. Os figurinos são excelentes, e muito merecem a premiação no Oscar, um grande exemplo disso são as roupas de Marion Davies, personagem estrelada por Amanda Seyfried, em todo o filme suas vestimentas brancas a colocam em um deslocamento tanto com o resto dos personagens quanto aos cenários que a cercam, quase sempre mais escuros que ela é como se ela estivesse deslocada da própria realidade em seu próprio mundo de fantasia, como a personagem tenta desesperadamente mostrar que vive. A fotografia do filme faz um bom trabalho em emular as lindas fotografias Noir da Hollywood clássica o que cria um grande charme visual ao longo do filme, as luzes recortadas vazando para os cenários são um ponto alto do filme.

No geral Mank é um filme com grandes qualidades técnicas porém de certa maneira um tanto quanto vazio para além disso. Gary Oldman (Herman Mankiewicz), Amanda Seyfried (Marion Davies) e Charles Dance (William Randolph Hearst) são as únicas atuações excepcionais do filme, com o resto variando entre boas e deixando a desejar. Não é nem de longe um grande filme, mas não deixa de ser interessante e não muito mais que isso. Mas talvez só interessante (e um interessante, sem muito interesse) não seja o que o principal indicado ao Oscar deva ser, mas não deixa de ser um filme sobre os cânones de Hollywood, algo que a academia gosta muito. Acredito que vá levar muitas estatuetas nos prêmios técnicos, que serão muito justas, mas prevejo uma certa dificuldade no filme em abocanhar os prêmios principais do ano.


Escrito por João Cardoso

 
 
 

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