"Filme de ficção que imita um documentário sobre os cineastas que exploram a miséria com fins mercantilistas. É uma crítica mordaz à “pornografia da miséria” e ao oportunismo dos documentaristas desonestos que fazem “documentários sócio-políticos” no Terceiro Mundo com a finalidade de vendê-los na Europa e ganhar prêmios." (Fonte)
O filme "Os Vampiros da Miséria" de Carlos Mayolo e Luis Ospina de 1977 é um
maravilhoso exemplo de um filme que discute a ideia de que o documentário apresenta a verdade sem alterá-la. O filme faz uma sátira a filmes e programas televisivos que exploram a pobreza e a desolação de populações à margem da sociedade. Faz isso apresentando um grupo de cineastas que, contratados por uma televisão alemã, filmam a miséria nas grandes cidades colombianas. A obra questiona o que é real e o que é construído de diversas maneiras.
A primeira vista o filme se parece um documentário, a equipe de filmagem está
fazendo um filme que explora a situação de pessoas pobres e com deficiências físicas e/ou mentais, porém logo o filme começa a dar indícios de que não passa de uma ficção. Outro aspecto que tangencia as noções de realidade e construção dentro do filme é o uso tanto do filme colorido quanto do filme preto e branco. A filmagem colorida em seu âmago se parece mais com a realidade na medida que sua visão é mais parecida com a vista pelo olho humano. No filme no entanto é a imagem que mais carrega uma construção, pois ela é mostra somente o que os personagens querem vender desta realidade, um olhar excludente e tendencioso que busca aquilo que quer vender e se nega a mostrar qualquer outra coisa que vá minimamente contra a ideia exagerada que se tenta passar. As passagens coloridas do filme são quase todas filmadas a mão tentando sempre funcionar como um olho, que somente observa essa realidade.
Porém majoritariamente filmado em preto e branco, e é aí que uma outra versão
dessa realidade se mostra. Em primeiro lugar nem os cineastas nem a população estão
cientes da existência dessa câmera, eles agem como se ela não existisse, a mesma relação em um filme que de fato se apresenta como ficção. Essa câmera quer mostrar a faceta desses realizadores como exploradores, ou como são acusados no próprio filme, vampiros. O Preto e Branco se apresenta, em um primeiro momento, mais contido utilizando a mesma linguagem do filme colorido, uma câmera na mão com muita liberdade de movimento, rondando os cineastas que filmam a miséria e a pobreza. Porém evidenciando a manipulação feita pelos cineastas. Já no segundo momento do filme a câmera se posiciona mais como uma câmera de ficção clássica, planos em tripé bem compostos e em posições que jamais presentes em um filme que pretende captar o mundo enquanto ele ocorre.
A partir da cena no quarto do hotel o filme preto e branco quer mostrar que para mostrar a visão que querem vender da Colômbia os cineastas vão ao ponto de criar uma completa ficção para se passar por realidade.
Por fim o filme "Agarrando Pueblo" pode ser considerado um documentário sobre uma
ficção que quer se passar por realidade. O filme apresenta cenas fortes e é direto em suas mensagens. Em sua última reviravolta, o filme evidencia todo o seu discurso e forma. Sem deixar de fazer uma forte crítica à invasão intelectual feita por países de primeiro mundo a povos menos desenvolvidos economicamente.
Escrito por João Cardoso
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