Poucos movimentos cinematográficos foram tão influentes quanto à nova onda francesa ou a nouvelle vague. O que começou como uma reunião de jovens críticos ambiciosos que trabalhavam numa revista sobre cinema se transformou num grupo de cineastas cuja obra redefiniu o cinema moderno.
Os anos 50 foram agitados para a indústria cinematográfica francesa, com um conflito edipiano entre a nova geração de cineastas e seus antecessores. François Truffaut foi o líder dessa mudança, escrevendo pra revista Cahiers Du Cinéma, revista lançada no início da década por vários críticos de cinema, incluindo o famoso crítico Andre Bazin e com a ajuda do arquivista cinematográfico Henri Langlois que foi também co-fundador da Cinémathèque Française, a qual esses jovens críticos frequentavam quase religiosamente.
Truffaut enaltecia os "filmes B" americanos à custa do impassível e autointitulado “cinema francês de qualidade”, François Truffaut atacava os cineastas da época que em sua maioria haviam se especializado em adaptações literárias, o cinema na época era engessado. Ele defendia apaixonadamente um estilo mais pessoal de direção no qual os cineastas pudessem arriscar e criar uma marca única nas obras. Era o nascimento do que acabou sendo conhecido como “la politique des auteurs”.
As inovações tecnológicas tais como câmeras portáteis de alta qualidade e películas cinematográficas mais rápidas geraram a possibilidade dos jovens cineastas criarem suas obras em locações reais, fora dos estúdios e sem o auxílio de iluminação. O fato dos longas também serem filmados nas ruas criou um elemento presente nos filmes da nouvelle vague, a cidade é um personagem do filme, ela interfere na narrativa e tem a sua importância aumentada.
Os filmes eram mais intimistas, os temas tradados eram existenciais, a discussão da liberdade individual, as relações humanas e os conflitos da alma. Eram menos comerciais, mais baratos, sem preocupações formais quanto à rigidez da linearidade narrativa, montagem mais fragmentada, diálogos e interpretações com mais improvisos, além de mais liberdade nos posicionamentos de câmera, por conta das inovações tecnológicas citadas acima, tudo isso em contraposição ao cinema americano de estúdios que produzia filmes em escalas enormes e com o orçamento exagerado para a época.
Os principais diretores da nouvelle vague são:
Fraçois Truffaut, Agnès Varda, Claude Chabrol, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Jacques Rivette e Eric Rohmer.
5 Filmes essenciais da Nova Onda do Cinema Francês:
1 - " À Bout de Souffle " - Jean-Luc Godard (1960)
Homem rouba um carro e mata um policial antes de seguir para Paris. Lá, ele se esconde na casa de uma mulher, que tem o desejo de ser engravidada por ele. Quando ele perde a consciência e comete alguns pequenos delitos, dá também a brecha para os policiais o acharem e darem início a sua perseguição final.
2 - "Les Quatre Cents Coups" - Fraçois Truffaut (1959)
O filme narra a história do jovem parisiense Antoine Doinel, um garoto de 14 anos que se rebela contra o autoritarismo na escola e o desprezo dos pais Gilberte e Julien Doinel. Rejeitado, Doinel passa a faltar as aulas para freqüentar cinemas ou brincar com os amigos, principalmente René. Com o passar do tempo, as censuras o direcionarão, vivenciará descobertas e cometerá delitos em busca de atenção.
3 - "Hiroshima, Mon Amour" - Alain Resnais (1959)
Durante sua participação num filme sobre a paz, rodado em Hiroshima, uma atriz francesa tem uma aventura amorosa com um japonês, o que reaviva nela lembranças de uma trágica paixão durante a Ocupação. Entre o passado de guerra e o presente de incertezas, ele e ela tentam tornar imortal este encontro fortuito, através da mistura de tempos, recordações e corpos.
4 - "Cléo de 5 à 7" - Agnès Varda (1962)
Agnès Varda, uma visionária da "new wave" francesa, capturou a atmosfera de Paris dos anos 60, mostrando os questionamentos de uma mulher solteira enquanto espera o resultado de uma biopsia. Uma crônica de duas horas cruciais na vida de uma mulher. Cléo das 5 as 7, mostra uma mistura profunda de realidade com sofrimento. Com trilha sonora de Michel Legrand (Guarda-chuvas de Cherbourg), uma obra prima fantástica que inspirou Legrand, Jean-Luc Godard e Anna Karina.
5 - " Paris nous Appartient" - Jacques Rivette (1962)
Anne Goupil é uma jovem parisiense estudante de literatura. Encontra-se por acaso com um grupo de teatro que ensaia arduamente Péricles, de Shakespeare, mesmo sem nenhum recurso financeiro. Ao mesmo tempo em que aceita o desafio de atuar na peça, Anne se descobre completamente envolvida numa misteriosa conspiração política cujos adeptos suicidam-se inesperadamente. O apocalipse iminente desestabiliza todas as suas convicções.
Escrito por: Gabriel Pinheiro
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