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Lista: 16 Melhores Filmes sobre a Melancolia

O cinema é uma arte capaz de exprimir uma série de sentimentos. Já dizia Edward Yang em Yi Yi, que ‘’vivemos três vezes mais desde que inventaram o cinema’’. Não é simplesmente sentir algo, é vivenciar e deixar esses sentimentos e momentos te preencherem por inteiro.


Hoje vamos abordar o complexo tema da melancolia. Melancolia é mais que um estado momentâneo de espírito, é uma tristeza profunda e estática. Os gregos antigos já tratavam e melancolia como um causador de agressividade, insônia, tristeza, e impulsionador de sentimentos suicidas. Apesar de o conceito da palavra ter sofrido modificações, tal como seus causadores, a ideia geral é que é a melancolia é um estágio da depressão, causando apatia e abatimento. Iremos explorar aqui 16 filmes que abordam de alguma forma a melancolia, seja por meio de contexto, personagens ou roteiro. É um sentimento cheio de camadas onde todos irão mostrar algo em comum: a tristeza e a dor de existir.


A ordem dos filmes está organizada por ordem cronológica.


1. Morangos Silvestres - Ingmar Bergman (1957)

Não é novidade que Ingmar Bergman é um dos maiores cineastas da história. Seus filmes não são fáceis porque machucam. Bergman tem uma capacidade imensa em transformar todo o tipo de sentimento humano em cinema. É a escolha perfeita para inaugurar uma lista sobre melancolia.


Apesar de ser um dos filmes mais otimistas da carreira do diretor, Wild Strawberries também ilustra o sentimento central da melancolia. Se trata de um professor de 76 anos, Isak Borg que viaja com sua nora de Estocolmo para Lund a fim de receber uma honra na universidade. O personagem principal é sisudo e fechado, mas a viagem o evoca uma série de lembranças, tristezas, decepções e alegrias que o levaram a ser dessa forma. É também um filme sobre nostalgia e sobre como lidar com o passado e suas cicatrizes, a vontade de viver e morrer. Reflexivo e intenso.


2. Cléo das 5 às 7 - Agnès Varda (1962)

Cléo das 5 às 7 ou "Duas horas de vida de uma mulher" de 1962, dirigido e produzido por Agnès Varda, acompanha às duas horas da cantora Cléo (Corinne Marchand) à espera do resultado de seu exame de câncer. Durante esse período ela decide andar pelas ruas de Paris à procura de sua essência, de forma delicada, suave e cotidiana — como em lojas de chapéu que ela costuma frequentar, bistrôs e locais frequentados por amigos —, fugindo de compromissos do ego, sua fama, como ensaios, que apenas a corrompem, como ela diz: "Everybody spoils me. Nobody loves me".


O filme possui um clima melancólico tanto no que move a personagem quanto no ritmo em que se passa, procurando acompanhar o tempo interno de Cléo, da perspectiva feminina, adentrando seu âmago de forma intensa, retratando a constante quietude inquietante de seu "limbo temporal". O tom se subleva quando ela encontra Antoine, um militar aguardando sua partida. A ansiedade contida de ambos se mescla formando a reflexão sobre o eu e a fragilidade do ser.


3. Kes - Ken Loach (1969)

O diretor Ken Loach explora em seus filmes desigualdades sociais, direito do trabalhador e a miséria na Grã-Bretanha. Kes é um de seus primeiros filmes e conta a história de um menino chamado Casper. Paupérrimo, sobre bullying na escola, negligenciado pela família e sem perspectiva de vida, encontra uma forma de escapismo de sua dura realidade ao começar a treinar seu falcão Kes.


A melancolia e a angústia nesse filme machucam porque ela é resultado de uma condição social deprimente a qual vivem milhões de seres humanos. Diferente do filme anterior onde a tristeza do personagem provém de toda uma vida, em Kes ela é presente numa criança, sem oportunidades e sem opções, vivendo humilhações diárias e sem ter para onde correr. A relação de Casper com Kes é de respeito e liberdade. Ele não considera o falcão um animal doméstico, mas um ser que voa em liberdade e fica se quiser ficar. Será esse o desejo de Casper?


4. Nostalgia - Andrei Tarkovsky (1983)

Tarkovsky é excelente em tratar a melancolia, a tristeza e a existência. Nostalghia trata do caminho do poeta russo Andrei Gorchakov à Itália. Não tendo encontrado o sentido de sua jornada, Gorchakov entra em uma reflexão sobre seu passado onde sua companhia é seu impermeável silêncio.


Nostalghia é uma das obras mais contemplativas de um cineasta conhecido por seu cinema poético e interpretativo. Com sua trama sobre um autor que vai até a Itália buscar informações sobre um músico russo, Tarkovsky quer demonstrar a dor de se viver longe de sua terra natal, situação essa vivida pelo personagem principal, seu objeto de pesquisa e o próprio autor da obra. A alienação do poeta de sua terra natal se traduz em uma depressão profunda, que corrói todos os aspectos de sua vida, isolando-o de sua companheira, de sua família, de sua própria obra.


A busca pelo sentido da Arte é demonstrada aqui em seu sentido mais introspectivo e profundo, sendo traduzida para o espectador através da própria trama, de poemas ditados durante as montagens do filme (escritos pelo pai de Tarkovsky) e visualmente.

Nada é simples no mundo de Tarkovsky, a arte deve ser expressa a todo custo e seus preços, por mais altos que sejam, devem ser pagos.


5. Paris, Texas - Wim Wenders (1984)

Paris, Texas é uma bela, introspectiva e sensível obra. Começa com um homem no deserto. Quem é ele? O que ele faz? O que levou ele a chegar ali? O próprio homem está sem suas memórias. Ao passo que ele as recupera, se lembra do homem que foi, de sua família e de seus laços.


O desmembramento da memória do personagem explica sua fase de solidão, tristeza e perdas. Não vou me alongar para não dar spoilers, mas não é um filme sobre redenção. É real, trata a dor de amar, insegurança, incertezas, medos. Amantes que não podem ficar juntos.A melancolia aqui se mostra ao lidar com as consequências dos próprios atos, do que não volta, da solidão. Mas até mesmo no deserto existe vida.


6. Amor à Flor da Pele - Wong Kar-Wai (2000)

Na Hong Kong de 1962, dois casais se mudam para o mesmo prédio. Em um dos apartamentos Chow Mo-wan (Tony Leung), um jornalista, mora com sua esposa que, por causa do trabalho é ausente em casa. No outro a secretária Su Lu-zhen passa por uma situação parecida com o marido. Ao se conhecerem melhor os dois personagens começam a teorizar sobre uma possível traição. Dessa forma uma relação de projeções e apoio mutuo surge entre os dois.


Pela sinopse já se pode notar um certo sentimento de “ser deixado de lado” dos personagens por seus cônjuges. Mas o filme vai muito além de sua narrativa. Os enquadramentos, muitas vezes, criam um quadro dentro do quadro, sempre distanciando o espectador do personagem. Dessa forma ficamos cada vez mais intrigados com a dor dos personagens e entramos na fantasia criada por eles para lidar com a traição que supostamente sofrem.


7. A Harmonia Werckmeister - Béla Tarr (2000)

Béla Tarr é um diretor que consiste em tratar temas filosóficos e niilistas em seus filmes, tendo um viés pessimista da humanidade. O filme escolhido se trata de uma pacata cidade húngara que tem sua paz movimentada com a chegada de um circo e suas duas principais atrações: uma baleia e um príncipe. O repentino movimento da cidade muda o cotidiano daquelas pessoas, e acompanhamos János Valuska nesse episódio.


Os longos takes, uso de pessoas ordinárias, os cenários e expressão dos personagens são elementos em comuns nas obras de Béla Tarr. Esta película é dotada de simbolismos e significados sobre a existência humana e das pessoas calejadas por aquela vida. O circo, o inverno, o príncipe são todos elementos que irão abalar profundamente aquele micro cosmo. A forma como o diretor trata a inferioridade humana e o perspicaz niilismo transformam este filme em uma das mais belas e melancólicas obras que já vi.


8. O Pianista - Roman Polanski (2002)

The Pianist conta a impressionante história real de Wladyslaw Szpilman e sua experiência durante Segunda Guerra, desde a captura de sua família e ida para os campos de concentração e a fuga do pianista, obrigado a sobreviver se escondendo em escombros da cidade.


Desde sua introdução com o som de bombas interrompendo uma performance artística até as cenas finais, quando o personagem principal é obrigado a tocar para um oficial nazista, O Pianista pinta um retrato da solidão, do isolamento e o espírito humano quando o assunto é sobrevivência.


Indo muito além da vontade de chocar a plateia com os horrores do Holocausto, Roman Polanski (que é ele mesmo um sobrevivente dos campos de concentração) conta uma história pessoal e íntima, focando-se na história real de seu personagem principal, Wladyslaw Szpilman, que viveu nos guetos de Varsóvia durante a ocupação alemã da Polônia durante a Segunda Guerra.


9. Encontros e Desencontros - Sofia Coppola (2003)

Lost in translation foi o filme que deu a Sofia Coppola indicação ao Oscar de Melhor Filme, Diretor e vencedor de Melhor Roteiro Original. Se trata do relacionamento entre duas pessoas distintas que por acaso se encontram na caótica cidade de Tóquio.


Este filme encarna o sentimento de solidão. A amizade dos dois protagonistas se inaugura a partir da solidão dos dois. Enquanto a personagem de Scarlett Johansson é negligenciada pelo marido, o de Bill Murray é ex astro de cinema que se contenta em fazer propagandas e toda noite se encontra bebendo seu whisky no bar.


Como disse, a melancolia aqui recorda a solidão e o medo. Os dois personagens trazem medos diferentes. Uma tem medo do futuro, das incertezas, de estar perdida, enquanto o outro teme as decisões que tomou, a idade, a infelicidade e a vida estática. O sentimento de estar perdido e sozinho mesmo estando em uma das cidades mais populosas do mundo. Esse é o plano de fundo para a construção de um singelo e sincero relacionamento.


10. Namorados Para Sempre - Derek Cianfrance (2010)

Blue Valentine não é um romance de cinema. Quebrando todas as expectativas do amor romântico, o filme trata da fragmentação de um relacionamento. O casal quer salvar o relacionamento, especialmente por conta de sua filha de 5 anos, então alugam um quarto de motel, onde numa sessão de nostalgia relembram o tempo onde eram apaixonados e cheios de sonhos.


É pela construção e a reflexão sobre momentos passados que Derek Cianfrance constrói a narrativa de um dos relacionamentos mais deprimentes do cinema: em uma memória, uma vida que poderia ter sido. Blue Valentine é o retrato de um casal que se casou cedo demais, uma gravidez não planejada, e duas vidas arruinadas pelas decisões passadas.


A melancolia está retratada aqui nas reflexões profundas que ambos os personagens fazem ao olharem para essas decisões: a lenta realização de que esse casamento está em ruínas e que não há salvação lentamente corrói o casal, culminando em um dos romances mais honestos e brutais do cinema.


11. Melancolia - Lars Von Trier (2011)

As irmãs Justine e Claire estão afastadas e nem o casamento de uma delas está conseguindo aproximá-las. Um repentino anúncio sobre a colisão da Terra com outro planeta assola as pessoas, mas as duas irmãs tem reações diferentes quanto ao possível fim da Terra.


O presságio do apocalipse é como o dia que se sucederá a partir do hoje, ele é incerto, sofrido e fora do nosso controle. Somos simplesmente levados pelo acaso e é isso que faz a vida ser o que ela é.


Assim como na vida o filme nos apresenta duas opções ou nós abraçamos a condição vazia que é o existir ou nós podemos simplesmente nos desesperar e espernear perante o abismo que é viver dia após dia com a única certeza de que morreremos ao fim. Somos simplesmente levados pelo acaso e é isso que faz a vida ser o que ela é, uma série de adaptações que apesar de serem dores que machucam são essas as mazelas que nos faz sentirmos vivos e respirando, aqui e agora. Sentido mais puro da palavra melancolia, a bile negra.


12. O Substituto - Tony Kaye (2011)

‘’E eu nunca me senti tão profundo e, ao mesmo tempo tão alheio de mim e tão presente no mundo’’ É Albert Camus que inaugura Detachment, filme que conta a história do professor substituto Henry (Adrien Brody) e o dia a dia de 3 semanas na escola a qual leciona, tendo sua vida alterada pela presença de três mulheres.


Ouso dizer que o personagem de Adrien Brody é um dos mais tristes nessa lista. Não poderia deixar de mencionar a excelente atuação de Adrien em representar o professor que por não querer criar laços com ninguém escolhe ser substituto, não precisando de ficar em nenhum lugar por muito tempo. A obra escancara o vazio existencial e a tristeza, além de tratar temas pertinentes como masculinidade tóxica, expectativas sobre as pessoas, depressão em adolescentes, relação entre pais e filhos.


As escolhas do protagonista o levaram a viver uma existência de solidão onde a ideia de criar laços é mais difícil que a de ficar sozinho. Mais que sozinho, ele se sente vazio. Vazio que existe para criar uma distância entre si e a dura realidade. Desligado e desconexo do mundo.


13. Amor - Michael Haneke (2012)

Haneke é um diretor conhecido por suas obras controversas que tratam sobre violência, sexo, morte e tabus. O tom pessimista e derrotista é evidente. Tal como Blue Valentine, Amour não é uma história de amor de cinema. A trama se trata do enfrentamento da doença e morte por um casal de idosos.


Neste filme acompanhamos a personagem de Emmanuelle Riva se decompor por meio de uma doença, e como seu marido vai lidar com isso. Não há uma paixão ardente, sonhos ou aventuras. É uma relação de cuidado, nostalgia e respeito pelos longos anos juntos. O amor entre os dois é evidente, e assistir o personagem de Jean-Louis Trintignant perder aos poucos sua esposa machuca, ao passo que os dois enfrentam o medo da morte.


É uma obra que leva a reflexão sobre a vida, os relacionamentos, o medo de perder o outro e de se perder. E mais importante, sobre o tempo. Quanto ao final do filme? Foi tudo por amor.


14. Vidas ao Vento - Hayao Miyazaki (2013)

Quem conhece os outros trabalhos de Hayao Miyazaki (Spirited Away, Tonari no Totoro) deve estar se perguntando o porquê de uma das obras de Miyazaki estarem na lista. Seu último filme é for a do convencional, não tem uma protagonista feminina nem o elemento sobrenatural. Kaze Tachinu é sobre Jiro Horikoshi, um homem que desde criança era aficcionado por aviões e decide construir um.


O filme está incluso na lista porque o personagem Jiro é um homem condicionado por sua sociedade. Aqui não haverá uma grande história de superação ou amor. O protagonista não é um homem que se destaca, é uma pessoa comum a qual o diretor escolheu para mostrar sua paixão pessoal por aviões e a guerra.


Ainda há beleza no filme, seja pela bela animação, trilha sonora, ou humanidade dos personagens (especialmente de Naoko, esposa do protagonista). Mas a devoção ao trabalho, o presságio da guerra e a necessidade de ser o que deve ser feito nos trazem um final com um quê de angústia, somado ao fato de na época ter sido a despedida do grande diretor Miyazaki do mundo cinematográfico.


15. Ela - Spike Jonze (2013)

Vencedor de Melhor Roteiro Original e indicado a Melhor Filme no Oscar, Her é um romance moderno sobre a solidão. Joaquin Phoenix vive Theodore Twombly, um homem que trabalha escrevendo cartas para outras pessoas. Desiludido e sozinho após o término de um relacionamento, ele conhece um sistema operacional que se intitula Samantha (dublado por Scarlett Johansson) e eles vivem um complexo relacionamento de amor.


Um mundo onde o vício na internet existe ao mesmo tempo que existe o prazer em receber cartas feitas a mão representa as contradições das pessoas. Ou melhor, a necessidade delas em serem e se sentirem amadas. Não parece absurda a ideia em se apaixonar por um sistema operacional, onde não se pode tocar ou sentir o outro? A solidão machuca tanto o personagem a ponto dele criar dependência emocional em cima de Samantha. Ou será que foi amor de verdade? Ou a ilusão de amar e se sentir vivo por isso?


As interpretações do filme são subjetivas, mas é notável sua dose imensa de sensibilidade e impossibilidade de se manter inerte perante a mensagem final. O que eu entendo desse filme? Que todo mundo precisa de um pouco de amor.


16. Anomalisa - Charlie Kaufman (2015)

Anomalisa é uma animação existencial centrada no personagem Michael Stone, palestrante motivacional que ironicamente é apático em relação à vida. O encontro com outra personagem o fará questionar-se sobre aspectos da vida.


Charlie Kaufman é conhecido por suas obras existenciais e que mergulham fundo nos oceanos turbulentos da psique humana. Em Anomalisa, seu primeiro trabalho de animação stop-motion, em parceria com Duke Johnson, é explorada a história de um escritor solitário em uma convenção.


A solidão e o isolamento auto imposto do personagem principal se manifesta na sua relação com Lisa, uma fã, e se traduz em um dos aspectos visuais do filme, utilizados de maneira muito criativa pelo diretor e roteirista, na qual não vou me alongar para não estragar a experiência pessoal do filme.


Introdução: Marina Rezende

Textos: Equipe do Querido Cinéfilo

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