Aviso: O seguinte texto trará discussões sobre aborto. Se o assunto for sensível para você, por favor considere pular o item 2.
A gravidez é uma época de transição na vida, cheia de altos e baixos, com mudanças no corpo e na mente. Ela traz um futuro novo que vai se apresentando e a garantia de que nada mais será igual após sua passagem.
O cinema vêm se interessando por essa época tão intensa desde sua criação. Nossa lista deseja demonstrar as diversas formas em que a gravidez é parte da vida, em todas as suas mais claras alegrias, bem como os momentos mais escuros, passando também pela realidade moderna do tratamento da pessoa gestante.
1. Juno (2007, Jason Reitman)
A jovem Juno (Elliot Page), de 16 anos, após ser surpreendida com uma gravidez inesperada, decide seguir com a gravidez e dar o bebê para adoção de um casal mais velho. Seus relacionamentos com seu melhor amigo e pai da criança Beeker (Michael Cera) e seus pais são alguns dos temas centrais da película.
Uma das maiores surpresas indie dos anos 2000, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro para a roteirista Diablo Cody, Juno é uma comédia que acompanha as mudanças no corpo da adolescente, bem como seus arredores.
Um dos melhores roteiros da sua época, o diálogo é sincero, os personagens são sempre interessantes, há um senso claro de progressão dos personagens enquanto o tempo vai passando. A gravidez adolescente é um acontecimento muito comum, e Juno é um retrato honesto, irreverente e, acima de tudo, humano sobre esse acontecimento.
2. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (2020, Eliza Hittman)
Autumn (Sidney Flanigan) é uma adolescente de uma área rural da Pennsylvania que é surpreendida por uma gravidez durante seu período escolar. Autumn busca um aborto legalizado, mas como a legislação conservadora de seu Estado não permite o procedimento, com a ajuda de sua amiga Skylar (Talia Ryder), as duas viajam até Nova York para buscar ajuda.
O tema da adolescente que busca a opção do aborto para uma gravidez inesperada é pouco discutido em terras brasileiras. No entanto, a situação atual no país é aterrorizante: milhares de abortos clandestinos colocam vidas em perigo; os poucos casos onde é legalizado (violência sexual, perigo à mãe, acefalia) não são suficientes para preservar a vida e dignidade da mulher brasileira.
Em Nunca, Raramente(...), a protagonista luta contra a burocracia de um Estado conservador, que coloca diversas barreiras contra a realização do procedimento, fazendo com que a jovem viaje até outro Estado (no caso, Nova York) para que possa abortar com segurança. No caminho, diversos aspectos da sexualidade feminina adolescente são expostos de uma forma madura e realista.
3. O Bebê de Rosemary (1968, Roman Polanski)
Um jovem casal (Mia Farrow e John Cassavetes) se muda para um apartamento novo enquanto tentam engravidar. Logo, são envolvidos em uma conspiração funesta, orquestrada pelos vizinhos e moradores locais.
Por detrás da história sobre cultos, satanismo e isolamento, as ansiedades do jovem casal que espera seu primeiro filho são trazidas à tona. Conflitos como a necessidade de se encaixar em uma nova comunidade contra a preservação da individualidade, a autonomia do corpo da mulher contra as expectativas da sociedade e o conflito entre marido e mulher levam a trama além de um simples filme de terror, e ajudam a criar uma atmosfera única e inesquecível.
4. Roma (2018, Alfonso Cuarón)
Contado durante um ano na vida de uma família de classe média alta no México dos anos 70, Roma é a história semi biográfica do diretor Alfonso Cuarón, que tem como personagem central a empregada da casa, Cleo (Yalitza Aparicio), que se descobre grávida, enquanto a família passa pela separação dos donos da casa.
O arco da personagem principal, que precisa lidar com a própria gravidez, no mesmo tempo em que a família que a emprega passa por uma crise, é trágico, e ao mesmo tempo cheio de esperanças. As realidades de Cleo e da família são contrastadas através da diferença social entre eles, mais um fato de decisão durante a gravidez de muitas mulheres.
Através das tragédias vividas por todos os personagens, podemos acompanhar uma história de incrível sensibilidade, algumas das cenas mais tensas do final da última década e uma das melhores direções da carreira de Cuarón.
5. O Renascimento do Parto (2013, Eduardo Chauvet)
O documentário O Renascimento do Parto demonstra a realidade das práticas obstetrícias modernas no mundo, caracterizada por um número alarmante de cesarianas e intervenções desnecessárias, com consequências traumáticas, ao contrário das recomendações médicas científicas.
O documentário busca analisar o ato do nascimento na medicina moderna, contando com entrevistas com profissionais de diversas áreas, como sociólogos, psicólogos e obstetras. O chamado “parto humanizado” leva em conta todas as vontades das mães no momento do nascimento, sem deixar de lado a medicina, mas com maior foco no melhor tratamento dado à autonomia da mulher e a saúde da criança, acima da conveniência dos profissionais da saúde.
O problema da violência obstétrica é parte da realidade de muitas mães modernas, e as discussões sobre seus danos e como impedi-la são de extrema importância. O documentário é uma boa porta de entrada para essa discussão, mas não deve ser a única fonte de informação.
Escrito por Fernando Cazelli
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