A Criterion é uma empresa estadunidense de distribuição de vídeo fundada em 1984, dedicada a lançar importantes clássicos do cinema ao redor do mundo com a alta qualidade que eles merecem, apresentando cada filme como seu criador gostaria que fosse exibido, restaurando-os com o maior cuidado e carinho, a fim de convidar o espectador a uma experiência encantadora.
Diretores como Akira Kurosawa, Ingmar Bergman, François Truffaut e Stanley Kubrick estão entre os muitos que tiveram suas obras relançadas pela companhia, que visa que mais e mais pessoas sejam introduzidas a estes gigantes e influentes cineastas que fizeram história na sétima arte.
Se não fosse a Criterion, muitos, incluindo o autor deste texto, não teriam assistido a algumas das películas que fizeram e ainda fazem o cinema ser o que é hoje, várias das quais são poderosíssimas a ponto de transformar a vida das pessoas. A empresa é tão poderosa que quando se vê seu logo redondo no início de cada filme, já sabemos que coisas boas estão por vir. Várias partes do globo são prestigiadas e com isso, muitas culturas diferentes são mostradas aos mais diversos espectadores.
Não foi nada fácil escolher apenas sete filmes. Dentre clássicos antigos e modernos, é óbvio que muita coisa não estará na lista, incluindo títulos já resenhados ou citados no Querido Cinéfilo como Vá e Veja, Decálogo, Guerra Fria, Persona, alguns filmes do David Lynch, Andrei Tarkovski e Agnès Varda - aliás, aproveite e leia todos. Cada diretor escolhido é de um país diferente, cuja obra discorrida acompanha uma sinopse e razões para assisti-la (leia-se uma leve puxaçãozinha de saco).
Lista baseada no catálogo disponível no site oficial da Criterion.
Os Incompreendidos, 1959, François Truffaut (Drama, Criminal, Coming-of-age)
Um garoto, cercado de adultos sem consideração, se inclina a uma vida de pequenos crimes. Quase autobiográfico, este é um dos filmes mais conhecidos do diretor francês. Calcada em Antoine Doinel, cujo lar é repleto de problemas, incluindo pais negligentes, relações extraconjugais e escolas com punições severas, a obra surpreende pelo quanto é orgânica e crua, mostrando a realidade dos jovens à margem da sociedade e o processo até chegarem a esse estilo de vida.
Harakiri, 1962, Masaki Kobayashi, Japão (Drama, Ação, Suspense)
Um ronin (samurai sem mestre) solicita um harakiri (ritual suicida dos samurais que desejam morrer com honra) no palácio de um senhor feudal e é informado do suicido brutal de outro ronin que o visitou anteriormente. Com isso, é revelado como os passados de ambos estão interligados, e com isso, a integridade do clã é questionada. Baseada em uma história real ocorrida durante a idade média japonesa, Harakiri está situado em um contexto sociopolítico que já não existe mais, porém, bem como qualquer sociedade onde uns lideram e outros são comandados, são desmascaradas as mentiras e contradições dos senhores de maior poder, o que vem acompanhado de uma fotografia linda, trilha sonora impecável e um tom de direção que varia entre o storytelling de fogueira e os momentos de ação mais viscerais, neste que é considerado um dos melhores filmes de samurai já lançados.
Morangos Silvestres, 1957, Ingmar Bergman, Suécia (Drama)
Após viver uma vida marcada pela frieza, um professor que está envelhecendo é forçado a confrontar o vazio de sua existência. Ingmar Bergman é um nome que dispensa apresentações. O aclamado diretor sueco retrata bastante a luta do homem contra si mesmo em títulos como Luz de Inverno e Persona, e em Morangos Silvestres não é diferente. O longa mostra o protagonista lidando com a própria velhice e morte, que pode chegar a qualquer momento, e por isso, te leva em uma jornada pela sua mente, nos guiando aos seus sonhos e memórias da infância.
12 Homens e uma Sentença, 1957, Sidney Lument, EUA (Drama, Criminal)
Um jurado prestes a se aposentar tenta evitar um erro judicial forçando seus colegas a reconsiderarem as evidências de um caso envolvendo um jovem porto-riquenho acusado de assassinar o pai. Este é um dos casos onde um excelente roteiro e uma direção primorosa fazem milagres a um filme. Aqui não tem nada a não ser texto, um cenário, um pequeno elenco de doze pessoas, uma câmera e poucos cortes, que na verdade são vários planos-sequência. Em suas uma hora e meia, 12 Homens e uma sentença te prende até o fim em um debate caloroso e entrega uma proposta intrigante tanto na premissa como em sua execução.
Umberto D., 1952, Vittorio De Sica, Itália (Drama)
Um idoso e seu cachorro lutam para sobreviver com sua pensão do governo. Vittorio De Sica é um dos principais nomes do neorrealismo italiano, e sua obra mais famosa é O Ladrão de Bicicletas, nome que vem à mente quando se fala no movimento e no diretor, o que faz com que filmes excelentes como Umberto D. fiquem ofuscados. A película não esconde o descaso da alta sociedade italiana e o estado para com os idosos em uma era pós-guerra. Apesar da abordagem mais direta, o filme tem um tom que varia entre o melancólico e o otimista, o público vê que os problemas do velhinho e seu cão acontecem, mas ainda consegue se sentir esperançoso em relação ao rumo de ambos. Uma curiosidade: dos filmes que o diretor já fez, este era seu favorito.
Garota Negra (A Negra de…), 1966, Ousmane Sembène, Senegal (Drama)
Uma moça negra do Senegal se torna uma empregada na França. Uma viagem que prometia dar certo acaba virando um pesadelo. Um sonho de uma vida nova se torna praticamente uma escravidão. O olhar do diretor senegalês, infelizmente pouco conhecido, é contundente, usando de um contexto de cerca de cem anos após o imperialismo europeu, mas que em sua estrutura pouco mudou, mesmo que o filme tenha mais de meio século. O longa mostra o cotidiano da nova vida da jovem Diouana, em uma direção gradativa, pronta para te surpreender a qualquer momento.
O Labirinto do Fauno, 2006, Guilermo Del Toro, Espanha (Drama, Fantasia, Guerra)
Na Espanha de 1944, uma amante de livros de fábulas e enteada de um sádico general embarca em um mundo de fantasia estranho e cativante, a fim de encontrar suas origens Ao contrário dos filmes citados, Labirinto do Fauno é um clássico mais moderno. Inspirado por fábulas clássicas, a premissa parece simples, mas seu conteúdo é vasto, mesmo para quase duas horas. A começar pela miscelânea de gêneros, iniciando na fantasia, passando pela guerra com uma pitada social, transitando pelo drama familiar e um pouco de suspense, sem se perder em nenhum dos gêneros, entregando um filme único. Diferente das fábulas moralistas e previsíveis, aqui encontra-se uma obra mais visceral e madura.
Criterion Collection é responsável por lançar e relançar filmes que marcaram época e pessoas, por isso é uma realizadora tão querida pela comunidade cinéfila, que vale a pena ser lembrada pelos amantes da sétima arte e das coisas boas que esta trouxe e ainda traz. Em outras palavras, é a empresa para qual cada produto você diz “cala a boca e leva meu dinheiro".
Menções Honrosas
Akira Kurosawa – Um Domingo Maravilhoso e Os Sete Samurais
Stanley Kubrick – Glória Feita de Sangue e Doutor Fantástico
Spike Lee - Faça a Coisa Certa
Bruce Lee – O Vôo do Dragão
Roman Polanski – O Bebê de Rosemary
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias – Cristian Mungiu
Trilogia Before – Richard Linklater
Gozilla (1954) - Ishirô Ishiro
Bom Dia – Yasujiro Ozu
Tempos Modernos aka O Filme que Todo Mundo Assiste Na Escola – Charles Chaplin
O Irlandês – Martin Scorcese
Moonrise Kingdom e O Grande Hotel Budapeste – Wes Anderson
A Noite dos Mortos-Vivos – George Romero
Parasita – Bong Joon Ho
Trilogia das Cores - Krzysztof Kieslowski
Fontes
Escrito por André Germano
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