Film Noir é um movimento que nasceu da união profana da literatura pulp policial com o expressionismo alemão. O gênero teve seu ápice entre as décadas de 30 e 40 nos EUA, contou com a colaboração de muitos dos maiores nomes do cinema e passou por todo tipo de revisão, paródia, homenagem e desconstrução.
As características são: o foco em tramas investigativas, cheias de mistério; personagens principais falhos, lutando com passados traumáticos; as femme fatales – mulheres lindas e poderosas que são intimamente ligadas com o caso; a fotografia abusa do jogo de sombras, atmosfera realista e cenários urbanos; a exploração temática do niilismo e da corrupção humana; e todo mundo em algum ponto fuma.
Aqui, pensamos em uma lista com as diversas facetas do gênero, indo do período clássico, o neo-noir (a reinvenção do gênero que ocorreu durante os anos 60) e algumas das homenagens mais modernas.
Relíquia Macabra - John Houston, 1941
Baseado no best seller O Falcão maltês, de Dashiell Hammet, Relíquia Macabra conta a história do detetive Sam Spade, vivido pelo lendário Humphrey Bogart, que se envolve em uma busca por uma relíquia raríssima, o Falcão Maltês, em uma trama cheia de corrupção, assassinatos e traição.
Em um dos primeiros grandes clássicos do gênero, o lendário diretor John Huston criou uma obra cheia de personalidade em sua primeira tentativa no comando. O sucesso de bilheteria ajudou a sedimentar o noir como um dos gêneros mais rentáveis, dada a facilidade da produção no sistema de estúdios, as grandes estrelas e a posição política em que os EUA se encontravam no momento.
Crepúsculo dos Deuses – Billy Wilder, 1950
A trama segue a história de Joe Gills, um roteirista de Hollywood, que se envolve com Norma Desmond, uma estrela do cinema mudo que mora em uma mansão isolada, revivendo os dias de glória. Norma está determinada a utilizar Joe para arquitetar seu retorno à fama.
Talvez um dos melhores roteiros de Billy Wilder, Crepúsculo dos Deuses explora o mundo escondido da fama, da influência, do vício e dos ciúmes. Com atuações espetaculares, Crepúsculo é um clássico do noir, com seu tema deprimente, personagens extremamente danificados e o olhar cínico.
A Marca da Maldade – Orson Welles, 1958
Um dos clássicos de Orson Welles, A Marca da Maldade conta a história de Mike Vargas (vivido por Charlton Heston), um policial de narcóticos do México que deve interromper sua lua-de-mel quando um trabalhador americano é morto, dando início a um conflito entre policiais corruptos e narcotraficantes.
Mais uma história de corrupção, personagens escusos e sistemas judiciários absolutamente incompetentes, A Marca da Maldade merece seu status de clássico pela direção meticulosa de Orson Welles, que também atua.
Um dos últimos grandes filmes da era clássica do noir, A Marca da Maldade demonstra o refinamento que ocorreu na década que precedeu seu lançamento. Um dos trabalhos mais essenciais da era, seja pelos grandes nomes associados, pela fotografia impecável ou pela famosa cena da bomba.
Chinatown – Roman Polanski, 1974
J.J. Gitts é um investigador particular durão contratado para expor um adultério. No curso de sua investigação, é envolvido com assassinatos, corrupção e desejos proibidos.
Um clássico do neo-noir, Chinatown é um produto dos anos 70, a era em que o cinismo atingiu a cultura americana, dado o fim trágico do sonho dos anos 60 (tragédia essa intimamente ligada com o diretor Roman Polanski) que investiga os atrativos do cinema noir clássico e os atualiza para uma nova era.
O renascimento do noir deve muito a Chinatown, e deu vida a clássicos como Taxi Driver, Veludo Azul, Seven, e muitos outros. O interesse renovado na exploração da imundície humana casou bem com a desilusão da nova era e a cada dois ou três anos, um novo clássico do cinema de crime é imaginado.
O Grande Lebowski – Joel e Ethan Coen, 1998
Jeff Lebowski é um hippie aposentado, vivendo nos anos 90 de George Bush. Sua vida pacata de jogos de boliche e White Russians é interrompida quando é confundido com um magnata que tem o mesmo nome, e alguns capangas mijam no seu carpete.
Uma verdadeira desconstrução do noir, O Grande Lebowski questiona ideias centrais ao gênero, como a masculinidade, a futilidade das ações dos protagonistas, o mundo que gerou o noir e a própria forma de se fazer cinema noir.
Os irmãos Coen têm um catálogo impressionante no neo-noir, com clássicos como O Homem que Não Estava Lá, Gosto de Sangue e Ajuste Final. A comédia estrelada por Jeff Bridges é uma investigação das estruturas do noir que, no final, ajuda a reafirmá-las, ajudando o gênero a evoluir.
Escrito por Fernando Cazelli
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